Doença de Lyme

A Doença de Lyme, também conhecida como borreliose de Lyme, é uma infecção bacteriana transmitida principalmente pela picada de carrapatos do gênero Ixodes. Desde a sua identificação nos anos 70, nos Estados Unidos, a Doença de Lyme tem despertado crescente atenção devido ao seu impacto significativo na saúde pública. Essa doença, que pode afetar diversos sistemas do corpo humano, é causada pela bactéria Borrelia burgdorferi e é caracterizada por sintomas variados que vão desde uma erupção cutânea característica, até complicações neurológicas e articulares graves.

Observe a área de inflamação ao redor. O carrapato deve ser retirado com cuidado e levado para análise em laboratório
Lesão de pele característica da doença de Lyme, o eritema migrans
  • Carrapato do Cervo (Ixodes scapularis): Este carrapato é o principal vetor da doença de Lyme nos Estados Unidos, especialmente no nordeste e centro-norte do país.
  • Carrapato do Pacífico (Ixodes pacificus): Encontrado no oeste dos Estados Unidos, este carrapato também pode transmitir a bactéria Borrelia burgdorferi.
  • Carrapato Europeu (Ixodes ricinus): Na Europa, o carrapato Ixodes ricinus é o principal vetor da doença de Lyme.
  • Carrapato da Ásia (Ixodes persulcatus): Este carrapato é encontrado na Ásia e também pode transmitir a bactéria.

Os carrapatos Ixodes passam por várias fases de vida: ovo, larva, ninfa e adulto. Durante a fase de ninfa e adulto, eles se alimentam de sangue de mamíferos, incluindo humanos. A transmissão da doença ocorre quando um carrapato infectado pica um hospedeiro para se alimentar, transferindo a bactéria Borrelia burgdorferi para o hospedeiro.

A doença de Lyme, transmitida pela bactéria Borrelia burgdorferi, é uma infecção zoonótica que atinge principalmente regiões temperadas do hemisfério norte. Nos Estados Unidos, a doença é mais prevalente no nordeste e no centro-norte, com cerca de 300.000 novos casos relatados anualmente. Na Europa, a incidência é alta em países como Alemanha, França e Polônia.

O principal vetor são os carrapatos do gênero Ixodes. A infecção ocorre com maior frequência durante os meses de primavera e verão, quando os carrapatos estão mais ativos. Fatores de risco incluem atividades ao ar livre em áreas infestadas por carrapatos.

Epidemiologicamente, a doença de Lyme apresenta uma variação significativa na prevalência entre diferentes regiões e populações, o que torna essencial a implementação de medidas de prevenção e controle, especialmente em áreas endêmicas.

Quando um carrapato infectado pica um hospedeiro, a bactéria Borrelia burgdorferi entra na pele e se espalha pelo corpo através do sistema linfático e sanguíneo.

O sistema imunológico do hospedeiro reconhece a presença da bactéria e inicia uma resposta inflamatória. Essa resposta é crucial para controlar a infecção, mas também pode contribuir para os sintomas clínicos da doença.

A bactéria Borrelia burgdorferi possui várias estratégias para evadir a resposta imunológica do hospedeiro, incluindo a alteração de suas proteínas de superfície e a formação de biofilmes que dificultam a eliminação pelo sistema imunológico.

A doença de Lyme pode se manifestar em várias formas, dependendo do estágio da infecção:

  • Estágio Localizado: Caracterizado pelo eritema migrans, uma erupção cutânea em forma de “alvo” que aparece no local da picada do carrapato.
  • Estágio Disseminado: Se não tratada, a infecção pode se espalhar para outras partes do corpo, causando sintomas como febre, fadiga, dores musculares e articulares, e problemas neurológicos.
  • Estágio Crônico: Em casos não tratados, a infecção pode levar a complicações mais graves, como artrite crônica, cardite de Lyme e neuropatias.
  • História Clínica e Exame Físico: O médico começa com uma avaliação detalhada da história clínica do paciente e um exame físico para identificar sinais e sintomas típicos da doença de Lyme, como o eritema migratório (uma erupção cutânea característica) e outros sintomas como febre, fadiga e dores articulares.
  • Testes de Sangue: Se a doença de Lyme for suspeitada, testes de sangue podem ser realizados para detectar a presença de anticorpos contra a bactéria Borrelia burgdorferi, que causa a doença. Os testes mais comuns são o Enzyme-Linked Immunosorbent Assay (ELISA) e o Western Blot. O ELISA é usado para detectar anticorpos iniciais, enquanto o Western Blot confirma o diagnóstico ao identificar anticorpos específicos para várias proteínas da bactéria.
  • Exames de Imagem: Em casos mais graves, especialmente quando os sistemas nervoso ou articular estão envolvidos, exames de imagem como ressonância magnética (MRI) ou tomografia computadorizada (CT) podem ser utilizados para avaliar a extensão da infecção.
  • História de Exposição: A história de exposição a áreas endêmicas e possíveis picadas de carrapatos também é considerada no diagnóstico

O tratamento da doença de Lyme geralmente envolve o uso de antibióticos para eliminar a bactéria Borrelia burgdorferi do organismo. A escolha do antibiótico, bem como a duração do tratamento, depende do estágio da infecção e das manifestações clínicas apresentadas pelo paciente.

Tratamento para Estágio Inicial

No estágio inicial da doença, quando o paciente apresenta sintomas leves como eritema migrans, febre e fadiga, o tratamento geralmente envolve antibióticos orais por um período de 14 a 21 dias. As opções mais comuns incluem:

  • Doxiciclina: 100 mg, duas vezes ao dia.
  • Amoxicilina: 500 mg, três vezes ao dia.
  • Cefuroxima: 500 mg, duas vezes ao dia.
Tratamento para Estágio Disseminado

Se a infecção se disseminar pelo organismo, afetando articulações, coração ou sistema nervoso, o tratamento pode requerer antibióticos intravenosos. A duração do tratamento varia de 14 a 28 dias, dependendo da gravidade dos sintomas. Os antibióticos utilizados incluem:

  • Ceftriaxona: 2 g, uma vez ao dia.
  • Cefotaxima: 2 g, três vezes ao dia.
  • Penicilina G: 18 a 24 milhões de unidades por dia, divididas em doses administradas a cada 4 horas.
Tratamento para Estágio Crônico

Em casos de doença de Lyme crônica ou persistente, onde sintomas como artrite crônica ou problemas neurológicos continuam mesmo após o tratamento inicial, pode ser necessário um regime prolongado de antibióticos. No entanto, a abordagem de tratamento para esta fase ainda é controversa e deve ser individualizada.

Considerações Adicionais

Além dos antibióticos, os pacientes podem precisar de tratamentos complementares para aliviar sintomas como dor e inflamação. Isso pode incluir anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), fisioterapia e medidas de suporte para problemas cardíacos e neurológicos.

A monitorização clínica é fundamental para avaliar a resposta ao tratamento e ajustar a terapia conforme necessário. O seguimento contínuo ajuda a prevenir complicações e a garantir uma recuperação completa.

Tratamento Doença de Lyme

Tratamento Doença de Lyme



Referências

  1. SciELO – Brasil. Doenças Infecciosas. Doença de Lyme: Síndrome brasileira ou síndrome de Lyme? [Online]. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ramb/a/RVcSMZc3KYnkQnQN57xScPB/>. Acesso em: 22 out. 2024.
  2. SciELO – Brasil. Borreliose de Lyme: Doenças Infecciosas. [Online]. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/abd/a/5SCtn6bCqhLWmjjnbRRzSwf/>. Acesso em: 22 out. 2024.
  3. Manuais MSD. Doenças Infecciosas: Doença de Lyme. [Online]. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doenças-infecciosas/espiroquetas/doença-de-lyme>. Acesso em: 22 out. 2024.

Sobre o Patógeno

Borrelia burgdorferi

A Borrelia burgdorferi é a bactéria causadora da doença de Lyme. É uma espiroqueta, um tipo de bactéria caracterizada por sua forma helicoidal e capacidade de se mover em ambientes viscosos. Transmitida principalmente através da picada de carrapatos do gênero Ixodes, ela infecta uma variedade de mamíferos, incluindo humanos. Após a infecção, a Borrelia burgdorferi pode disseminar-se pelo corpo, afetando a pele, articulações, coração e sistema nervoso central. A bactéria possui várias estratégias para evadir o sistema imunológico do hospedeiro, o que pode complicar o tratamento. A detecção e tratamento precoces são essenciais para prevenir complicações graves associadas à infecção.

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Dr. Marcelo Negreiros

Autor do Artigo

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