Heterofíase

A heterofíase é uma doença parasitária causada pelo trematódeo intestinal Heterophyes heterophyes, que infecta o intestino delgado de humanos e outros mamíferos. A transmissão ocorre pela ingestão de peixes crus ou mal cozidos que contêm as formas larvais do parasita. A heterofíase é endêmica em algumas regiões da Ásia, Oriente Médio, África e Europa, onde o consumo de peixes contaminados é comum. Os sintomas da heterofíase podem incluir dor abdominal, diarreia, anorexia, náuseas, perda de peso e má absorção. Em casos raros, os ovos do parasita podem migrar para o coração e outros órgãos, causando complicações graves. O diagnóstico é feito pela identificação dos ovos nas fezes do paciente. O tratamento é baseado no uso de praziquantel, um medicamento antiparasitário eficaz contra vários trematódeos. A prevenção da heterofíase envolve o cozimento adequado dos peixes antes do consumo, a higiene pessoal e ambiental, e o controle dos hospedeiros intermediários do parasita, como os moluscos de água doce.

Trematódeo Heterophyes heterophyes adulto

Parazitológico de fezes: Ovos de Heterophyes heterophyes

A heterofíase é uma doença de importância global, pois afeta milhões de pessoas em diversas regiões do mundo, especialmente aquelas onde o consumo de peixes crus ou mal cozidos é uma prática cultural ou alimentar. Além disso, a heterofíase pode causar morbidade e mortalidade em casos de migração dos ovos do parasita para órgãos vitais, como o coração.

A epidemiologia global da heterofíase mostra que a doença é endêmica em algumas áreas da Ásia, Oriente Médio, África e Europa, onde o parasita tem seu ciclo de vida completo envolvendo hospedeiros definitivos (humanos e outros mamíferos), hospedeiros intermediários (moluscos de água doce) e hospedeiros paratênicos (peixes de água doce ou salgada). A prevalência da heterofíase varia de acordo com a disponibilidade e o consumo dos peixes infectados, bem como as condições sanitárias e ambientais das regiões afetadas. Estima-se que cerca de 7 milhões de pessoas estejam infectadas pelo H. heterophyes no mundo, sendo que a maioria dos casos ocorre no Egito, Sudão, Síria, Líbano, Irã, Iraque, Coreia do Sul, Japão e China.

A epidemiologia da heterofíase no Brasil é pouco conhecida, pois há poucos estudos e relatos de casos da doença no país. No entanto, sabe-se que o Brasil possui as condições favoráveis para a ocorrência da heterofíase, como a presença do parasita e seus hospedeiros intermediários e paratênicos em alguns rios e lagos, e o hábito de consumir peixes crus ou mal cozidos em algumas regiões, principalmente na Amazônia e no Nordeste. Um dos primeiros casos de heterofíase no Brasil foi descrito em 1988, em um paciente do estado do Pará que apresentava sintomas gastrointestinais e ovos do H. heterophyes nas fezes. Desde então, outros casos esporádicos foram relatados em diferentes estados, como Maranhão, Piauí, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo. Acredita-se que a heterofíase seja uma doença subnotificada e subdiagnosticada no Brasil, e que possa representar um problema de saúde pública emergente, especialmente nas áreas de baixo desenvolvimento socioeconômico e ambiental.

  • Os hospedeiros definitivos são os humanos e outros mamíferos que se infectam ao ingerir peixes contaminados com as formas larvais do parasita. Eles abrigam os vermes adultos no intestino delgado e eliminam os ovos nas fezes.
  • Os hospedeiros intermediários são os moluscos de água doce que se infectam ao ingerir os ovos do parasita presentes na água ou no sedimento. Eles abrigam as formas larvais chamadas de cercárias, que se liberam na água e procuram por peixes.
  • Os hospedeiros paratênicos são os peixes de água doce ou salgada que se infectam ao ingerir as cercárias do parasita presentes na água. Eles abrigam as formas larvais chamadas de metacercárias, que se encistam nos músculos ou nos órgãos internos.
  • No hospedeiro definitivo, que pode ser um humano ou outro mamífero que se alimenta de peixes, o verme adulto libera ovos embrionados nas fezes. Cada ovo contém um miracídio totalmente desenvolvido.
  • Os ovos são ingeridos por um caramujo de água doce, que é o primeiro hospedeiro intermediário. Dentro do caramujo, os ovos eclodem e liberam miracídios, que penetram o intestino do caramujo. Os miracídios se transformam em esporocistos, depois em rédias e, por fim, em cercárias. Muitas cercárias são produzidas a partir de cada rédia.
  • As cercárias são liberadas pelo caramujo na água e nadam em busca de um peixe de água doce ou salgada, que é o segundo hospedeiro intermediário. As cercárias penetram na pele do peixe e formam cistos nos tecidos dos peixes, chamados de metacercárias.
  • O hospedeiro definitivo se infecta ao ingerir peixes crus, mal cozidos ou salgados que contêm as metacercárias do parasita. No intestino delgado, as metacercárias se liberam dos cistos e se fixam na mucosa intestinal, onde se transformam em vermes adultos.

A fisiopatologia da heterofíase pode ser dividida em três níveis: molecular, celular e sistêmico.

  • No nível molecular, o parasita libera substâncias que podem interferir no metabolismo e na imunidade do hospedeiro, como enzimas proteolíticas, antígenos de superfície, fatores de crescimento e citocinas. Essas substâncias podem induzir inflamação, apoptose, necrose, fibrose e angiogênese nos tecidos afetados.
  • No nível celular, o parasita adere à mucosa do intestino delgado e provoca lesões ulcerativas, erosivas e hemorrágicas. O parasita também pode penetrar na mucosa e depositar ovos que atravessam os vasos linfáticos e sanguíneos, alcançando outros órgãos, como o coração, o fígado, o pulmão e o cérebro. Os ovos podem causar granulomas, abscessos, trombose, embolia e infarto nos órgãos atingidos.
  • No nível sistêmico, o parasita pode causar sintomas variados, dependendo da intensidade da infecção, da localização dos ovos e da resposta imune do hospedeiro. Os sintomas mais comuns são dor abdominal, diarreia, anorexia, náuseas, perda de peso e má absorção. Em casos graves, o parasita pode causar insuficiência cardíaca, hepática, pulmonar ou cerebral, podendo levar à morte.

A doença pode ser assintomática ou apresentar sintomas variados, dependendo da intensidade da infecção, da localização dos ovos do parasita e da resposta imune do hospedeiro. Os principais sintomas da heterofíase são:

  • Anorexia: é a perda ou diminuição do apetite, que pode levar à desnutrição e à perda de peso. A anorexia pode ser causada pela inflamação e pela lesão da mucosa intestinal provocadas pelo parasita, que interferem na digestão e na absorção dos nutrientes.
  • Náuseas: são a sensação de enjoo e de vontade de vomitar, que podem ser acompanhadas de vômitos. As náuseas podem ser causadas pela irritação do estômago e do duodeno pelo parasita, que estimula os receptores quimiorreceptores da zona de gatilho emética, localizada no tronco cerebral.
  • Dor abdominal: é a sensação de desconforto ou de cólica na região do abdômen, que pode ser localizada ou difusa. A dor abdominal pode ser causada pela inflamação, pela ulceração e pela hemorragia da mucosa intestinal provocadas pelo parasita, que ativam os nociceptores (receptores de dor) presentes nas terminações nervosas do intestino.
  • Má absorção: é a diminuição ou a deficiência da absorção dos nutrientes pelo intestino, que pode levar à carência de vitaminas, minerais, proteínas, gorduras e carboidratos. A má absorção pode ser causada pela lesão da mucosa intestinal provocada pelo parasita, que reduz a superfície de contato e a função das vilosidades intestinais, responsáveis pela absorção dos nutrientes.
  • Perda de peso: é a redução do peso corporal, que pode ser voluntária ou involuntária. A perda de peso pode ser causada pela anorexia, pelas náuseas, pela má absorção e pela diarreia provocadas pelo parasita, que diminuem a ingestão e a utilização dos nutrientes pelo organismo.
  • Dispepsia: é a dificuldade ou a dor na digestão, que pode ser acompanhada de azia, queimação, empachamento, arrotos e gases. A dispepsia pode ser causada pela irritação do estômago e do duodeno pelo parasita, que altera a secreção e o movimento gástricos, e pela má absorção dos nutrientes, que aumenta a fermentação e a produção de gases no intestino.
  • Diarreia: é a evacuação frequente e líquida, que pode ser acompanhada de muco, sangue ou pus. A diarreia pode ser causada pela inflamação, pela ulceração e pela hemorragia da mucosa intestinal provocadas pelo parasita, que aumentam a secreção e a motilidade intestinais, e pela má absorção dos nutrientes, que aumentam a osmolaridade e a pressão no intestino.

O diagnóstico da heterofíase é baseado na identificação dos ovos do parasita nas fezes do paciente. Os ovos são de cor amarelo-marrom e medem cerca de 30 x 15 mcm.

Os métodos diagnósticos mais utilizados são:

  • Exame parasitológico das fezes: consiste na observação microscópica de uma amostra de fezes frescas ou conservadas em solução salina ou formalina, após homogeneização e concentração.

Outros achados consistem em anemia e eosinofilia. A sorologia tem aplicação limitada. Alguns laboratórios disponibilizam imunoensaios para antígenos de parasitas nas fezes ou urina ou reação de polimerização em cadeia (PCR) para parasitas específicos.

Tratamento

O tratamento farmacológico da heterofíase é feito com o uso de praziquantel, um medicamento antiparasitário que atua causando contrações e paralisia dos vermes, facilitando sua eliminação pelas fezes.

O praziquantel é geralmente bem tolerado, mas pode causar alguns efeitos colaterais, como dor de cabeça, tontura, náusea, vômito, dor abdominal e febre. Esses efeitos são transitórios e costumam desaparecer após o término do tratamento. A dose recomendada é:

Tratamento Farmacológico = Antiparasitário

Escolha de primeira linha:

  • Praziquantel: 25mg/kg, por via oral, de 08/08h durante 01 dia (isso mesmo, apenas 1 dia de tratamento).

Escolha de segunda linha:

  • Albendazol 400mg: 01 comprimido, por via oral, de 12/12h durante 3 dias.

O tratamento da heterofíase deve ser acompanhado de medidas preventivas, como evitar a ingestão de peixes crus ou mal cozidos que possam conter os parasitas, melhorar as condições de saneamento básico e higiene pessoal e ambiental, e controlar os hospedeiros intermediários do parasita, como os moluscos de água doce.

Acompanhamento

O acompanhamento da heterofíase é importante para avaliar a eficácia do tratamento, a evolução dos sintomas e a possível ocorrência de complicações. O acompanhamento pode ser feito de forma ambulatorial ou hospitalar, dependendo da gravidade da doença e da resposta do paciente ao tratamento.

  • O caso pode ser conduzido ambulatorialmente quando o paciente apresenta sintomas leves ou moderados, sem sinais de gravidade, e está em uso de praziquantel adequado. Nesse caso, o paciente deve retornar ao médico após o término do tratamento para realizar um novo exame de fezes e verificar a eliminação dos ovos do parasita. O paciente também deve ser orientado a evitar a ingestão de peixes crus ou mal cozidos que possam conter o parasita, e a melhorar as condições de higiene pessoal e ambiental.
  • O caso deve ser internado em hospital quando o paciente apresenta sintomas graves ou complicados, com sinais de gravidade, como insuficiência cardíaca, hepática, pulmonar ou cerebral, causada pela migração dos ovos do parasita para esses órgãos. Nesse caso, o paciente deve receber praziquantel assistido, além de suporte clínico e intensivo, conforme a necessidade. O paciente deve permanecer no hospital até a estabilização do quadro clínico e a melhora dos exames laboratoriais.

O paciente pode ser considerado curado quando apresenta ausência de sintomas, normalização dos exames laboratoriais e negativação dos ovos do parasita nas fezes, após o tratamento com praziquantel. O paciente deve realizar um exame de fezes de controle após 4 a 6 semanas do término do tratamento, para confirmar a cura.

O acompanhamento a longo prazo pode ser necessário em casos de infecções crônicas ou recorrentes, que podem causar danos permanentes aos órgãos afetados pelos ovos do parasita, como o coração, o fígado, o pulmão e o cérebro. Nesses casos, o paciente deve realizar exames periódicos para monitorar a função desses órgãos e receber tratamento específico para as complicações decorrentes da heterofíase.

Sobre o patógeno

Heterophyes heterophyes

Trematódeo Intestinal

O Heterophyes heterophyes é um parasita intestinal que infecta humanos e outros animais pela ingestão de peixes crus ou mal cozidos que contêm as formas larvais do parasita. O parasita é endêmico em algumas regiões da Ásia, Oriente Médio, África e Europa, onde o consumo de peixes contaminados é comum. A infecção pelo parasita pode causar sintomas gastrointestinais, como dor abdominal, diarreia, anorexia, náuseas e má absorção. Em casos raros, os ovos do parasita podem migrar para o coração e outros órgãos, causando complicações graves.

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