💊 Vasopressina na UTI – Drogas Vasoativas

A vasopressina, também conhecida como hormônio antidiurético (ADH), é um potente vasoconstritor não adrenérgico, amplamente utilizado como agente adjuvante em pacientes com choque séptico refratário à noradrenalina. Ao atuar em receptores diferentes das catecolaminas, ela oferece efeito sinérgico quando combinada com noradrenalina, reduzindo a necessidade de doses elevadas dessa última.

Além da sua ação vasopressora, a vasopressina também é usada em situações específicas como parada cardiorrespiratória e sangramentos varicosos esofágicos.

Mecanismo de Ação

A vasopressina age principalmente em dois receptores:

  • V1: promove vasoconstrição periférica, aumentando a resistência vascular sistêmica (RVS) e a pressão arterial
  • V2: atua nos túbulos renais, promovendo reabsorção de água (efeito antidiurético)

Diferentemente das catecolaminas, não depende de receptores adrenérgicos nem é afetada por acidose metabólica, sendo eficaz mesmo em ambientes com pH baixo.

  1. Choque séptico refratário

    • Associada à noradrenalina quando a PAM não atinge a meta (≥ 65 mmHg), especialmente com doses moderadas a altas de catecolaminas

  2. Redução da dose de catecolaminas (catecholamine-sparing strategy)

    • Em pacientes com risco de isquemia miocárdica, arritmias ou disfunção induzida por altas doses de noradrenalina

  3. Parada cardiorrespiratória (PCR)

    • Como alternativa à adrenalina em alguns protocolos, principalmente em pacientes com acidose profunda

  4. Sangramento de varizes esofágicas

    • Reduz o fluxo sanguíneo esplâncnico por vasoconstrição mesentérica

  5. Choque vasodilatador em transplante hepático ou cirurgia cardíaca

    • Pode ser útil em situações de vasoplegia pós-bypass ou disfunção hepática grave

  1. Hiponatremia grave (< 130 mEq/L)

    • Pode piorar a retenção de água e precipitar convulsões, edema cerebral ou coma

  2. Doença arterial coronariana grave

    • A vasoconstrição intensa pode reduzir o fluxo coronariano e precipitar isquemia miocárdica

  3. Doença vascular periférica avançada

    • Risco aumentado de isquemia distal (dedos, extremidades, ponta nasal)

  4. Isquemia mesentérica pré-existente

    • Aumento do risco de necrose intestinal com uso prolongado

  5. Hipersensibilidade conhecida à vasopressina ou derivados

Apresentação

Solução injetável: 20 unidades/mL (ampola de 1 mL).

⚗️ Diluição para infusão

A vasopressina é diluída em SG 5% e administrada por bomba de infusão contínua, geralmente em dose fixa (sem necessidade de titulação). As seguintes diluições são padronizadas e facilitam o cálculo em mL/h:

✅ Opção 1 — Concentração de 0,16 U/mL

  • 2 mL de vasopressina (20 U/mL) = 40 U
  • Adicionar a 248 mL de SG 5%
  • 🔹 Volume final: 250 mL
  • 🔹 Concentração final: 0,16 U/mL
  • Ideal para uso prolongado em bomba de infusão

✅ Opção 2 — Concentração de 0,2 U/mL

  • 1 mL de vasopressina (20 U/mL) = 20 U
  • Adicionar a 99 mL de SG 5%
  • 🔹 Volume final: 100 mL
  • 🔹 Concentração final: 0,2 U/mL
  • Opção prática para frascos menores ou infusões mais concentradas (uso central preferencial)

⚠️ Cuidados práticos

  • Administrar exclusivamente por bomba de infusão
  • Preferência por acesso venoso central
  • Nunca fazer em bolus IV
  • Monitorar rigorosamente:
    • PAM
    • Diurese
    • Perfusão periférica
    • Sódio sérico
  1. Aspirar 2 mL de vasopressina (20 U/mL) = 40 U
  2. Adicionar a 248 mL de SG 5%
  3. Homogeneizar suavemente
  4. Rotular o frasco ou seringa

Posologia

✅ Dose padrão

  • 0,01 a 0,04 Unidades/minuto

🔸 Dose fixa, não é titulada como as catecolaminas
🔸 A infusão é contínua e administrada por bomba de infusão volumétrica

🎯 Alvo terapêutico

  • PAM ≥ 65 mmHg
  • Perfusão periférica adequada
  • Redução da dose de noradrenalina
  • Estabilidade hemodinâmica sem acidose ou hipoperfusão

⚠️ Observações importantes

  • Nunca administrar por bolus
  • Monitorar:
    • Sódio sérico (risco de hiponatremia)
    • Extremidades e perfusão
    • Sinais de isquemia mesentérica ou coronariana
  • Suspender imediatamente se houver suspeita de isquemia tecidual
Calculadora de Vasopressina

Calculadora de Vasopressina

❓ Perguntas Frequentes sobre o uso de Vasopressina na UTI

  • Quando o paciente estiver em uso de noradrenalina em dose moderada a alta (geralmente ≥ 0,2 a 0,3 mcg/kg/min) sem atingir a PAM alvo (≥ 65 mmHg)
  • A vasopressina é usada como adjuvante, nunca como droga de primeira escolha

Não.
Ela complementa a ação vasoconstritora da noradrenalina por atuar em receptores diferentes (V1). O objetivo é:

  • Melhorar a pressão arterial
  • Reduzir a dose total de catecolaminas, minimizando efeitos colaterais
  • Pode, sim. Ao estimular receptores V2, promove reabsorção de água e pode causar oligúria
  • Em doses vasopressoras (0,03–0,04 U/min), o efeito predominante é vasoconstrição, mas a retenção hídrica pode ocorrer em alguns pacientes
  • Não.
    A dose é fixa, geralmente 0,03 U/min, sem necessidade de ajuste
  • Doses maiores não são recomendadas devido ao risco de isquemia

Sim.
Ao contrário das catecolaminas, a vasopressina mantém sua eficácia mesmo em pH < 7,2, sendo uma boa opção em pacientes com acidose profunda

  • Isquemia de extremidades (dedos, ponta do nariz)
  • Isquemia mesentérica
  • Hiponatremia por retenção de água
  • Em uso prolongado: necrose cutânea e vasoconstrição coronariana
  • Sim, mas preferencialmente por acesso central
  • Se usada por acesso periférico, deve ser por tempo curto, com veia calibrosa, e monitoramento de extravasamento

📚 Referências Bibliográficas

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    Critical Care Medicine. 2013;41(1):263–306.
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