💊 Dobutamina na UTI – Drogas Vasoativas

A dobutamina é uma catecolamina sintética com ação predominantemente beta-1 adrenérgica, amplamente utilizada como inotrópico positivo em pacientes com disfunção miocárdica. Sua principal função é aumentar a contratilidade cardíaca, sendo uma droga essencial no tratamento de choque cardiogênico, baixo débito cardíaco pós-cirúrgico e insuficiência cardíaca aguda descompensada.

Diferente das vasopressoras, a dobutamina não possui efeito vasoconstritor relevante, podendo inclusive causar vasodilatação leve, o que a torna ideal para suporte inotrópico em situações com perfusão comprometida, mas pressão arterial ainda mantida.

Mecanismo de Ação

A dobutamina age principalmente nos receptores beta-1 adrenérgicos, com efeitos adicionais em beta-2 e mínima ação alfa:

  • Beta-1: ↑ inotropismo (contração) e cronotropismo (frequência cardíaca)
  • Beta-2: leve vasodilatação periférica → ↓ pós-carga
  • Alfa-1 (fraco): discreto efeito vasoconstritor compensatório

🔹 Resultado clínico: aumento do débito cardíaco com queda ou estabilidade da resistência vascular sistêmica

  1. Choque cardiogênico com baixo débito cardíaco

    • Quando há disfunção ventricular esquerda com sinais de hipoperfusão (oligúria, extremidades frias, lactato elevado)

  2. Insuficiência cardíaca aguda descompensada com má perfusão

    • Pacientes com perfil “frio e úmido” (baixo débito e congestão)

  3. Síndrome pós-parada cardiorrespiratória

    • Suporte inotrópico em pacientes com disfunção miocárdica evidente

  4. Pós-operatório de cirurgia cardíaca

    • Prevenção ou correção de baixo débito cardíaco transitório

  5. Ecocardiografia de estresse

    • Para avaliação da reserva contrátil em pacientes com suspeita de isquemia

  6. Auxílio ao desmame ventilatório em pacientes com insuficiência cardíaca

    • Quando a disfunção cardíaca compromete a capacidade de manter trocas gasosas durante o desmame

  1. Hipotensão arterial grave não tratada

    • Dobutamina pode causar vasodilatação e piorar a perfusão se a pressão estiver muito baixa

  2. Taquiarritmias não controladas

    • Pode agravar arritmias ventriculares ou supraventriculares (ex: FA rápida, TV)

  3. Estenose aórtica grave

    • Aumento do inotropismo pode elevar o gradiente de obstrução e desencadear isquemia

  4. Hipovolemia severa

    • Sem volume adequado, o aumento da contratilidade pode ser ineficaz ou até prejudicial

  5. Miocardiopatia hipertrófica obstrutiva

    • Dobutamina pode piorar a obstrução no trato de saída do VE

Apresentação

Solução injetável: 12,5 mg/mL (250 mg/20 mL) – ampola com 20 mL.

⚗️ Diluição para infusão

A dobutamina deve ser administrada por bomba de infusão contínua, com diluição em SF 0,9%, SG 5% ou Ringer Lactato. A concentração a seguir é adequada para infusões de alta concentração em ambientes controlados, como a UTI.

✅ Concentração padronizada (concentrada): 4.000 mcg/mL (4 mg/mL)

💉 Preparo:

  • Dobutamina: 1.000 mg (geralmente 04 ampolas de 250 mg/20mL → 80 mL)
  • Diluir em 170 mL de diluente (SF 0,9%, SG 5% ou Ringer Lactato)
  • 🔹 Volume final: 250 mL
  • 🔹 Concentração final: 4.000 mcg/mL (4 mg/mL)

⚠️ Cuidados práticos

  • Utilizar bomba de infusão contínua com controle rigoroso
  • Administrar preferencialmente por acesso venoso central
  • Monitorar continuamente:
    • Pressão arterial
    • Frequência cardíaca
    • ECG
    • Sinais de perfusão periférica
  • Usar com atenção em pacientes com taquiarritmias ou hipotensão grave

  1. Aspirar 1.000 mg de dobutamina (geralmente 80 mL)
  2. Adicionar a 170 mL de diluente escolhido (SF 0,9%, SG 5% ou RL)
  3. Homogeneizar bem a solução
  4. Identificar o frasco

Posologia

Dose inicial recomendada

  • 2,5 a 5 mcg/kg/min

🔸 Ideal para iniciar com segurança e observar a resposta clínica (perfusão, débito urinário, lactato, ecocardiograma)

Faixa usual de manutenção

  • 5 a 15 mcg/kg/min
  • A maioria dos pacientes responde bem com doses dentro dessa faixa

🔼 Dose máxima

  • 20 mcg/kg/min

🔸 Doses acima disso devem ser usadas com extrema cautela, devido ao risco aumentado de arritmias, isquemia e taquicardia intensa

🎯 Alvo terapêutico

  • Melhora da perfusão tecidual: extremidades quentes, diurese adequada, lactato decrescente
  • Elevação ou estabilização do débito cardíaco
  • Sem sinais de sobrecarga ou isquemia miocárdica

⚠️ Observações importantes

  • Iniciar com a menor dose possível, aumentando gradualmente
  • Evitar iniciar dobutamina com PAM < 65 mmHg sem vasopressor concomitante
  • Em pacientes com resposta limitada, considerar:
    • Otimizador de pré-carga
    • Associação com vasopressor (ex: noradrenalina)
    • Avaliação ecocardiográfica
Calculadora de Dobutamina

Calculadora de Dobutamina

❓ Perguntas Frequentes sobre o uso de Dobutamina na UTI

Quando há hipoperfusão com débito cardíaco reduzido, mesmo com pressão arterial relativamente preservada.

Situações típicas incluem:

  • Choque cardiogênico
  • Baixo débito cardíaco pós-operatório
  • Insuficiência cardíaca descompensada com sinais de má perfusão

Não.
A dobutamina tem efeito vasodilatador leve (por ação beta-2), o que pode reduzir a resistência vascular e levar à hipotensão em pacientes sensíveis ou hipovolêmicos.

Por isso, é comum associá-la a vasopressores como noradrenalina, especialmente em pacientes com PAM < 65 mmHg.

  • Melhora da perfusão periférica (pele mais quente, melhora da diurese)
  • Redução do lactato sérico
  • Melhora da pressão de pulso e débito cardíaco
  • Elevação moderada da FC e PA sistólica em pacientes hipotensos com disfunção ventricular
  • O início de ação é rápido, geralmente em 1 a 2 minutos
  • O efeito clínico completo pode ser observado em 5 a 10 minutos, com ajuste progressivo da dose

Com base na resposta clínica (PAM, perfusão, débito urinário)

Em UTIs com monitorização avançada, é possível usar:

  • Ecocardiograma à beira-leito
  • Débito cardíaco por termodiluição ou bioimpedância
  • Lactato seriado e saturação venosa central (ScvO₂)

Se houver:

  • Arritmias graves (FA rápida, extrassístoles frequentes, taquicardia sinusal sustentada)
  • Hipotensão significativa
  • Evidência de isquemia miocárdica
  • Melhora da função miocárdica ou perfusão adequada mantida
  • Sim, por tempo curto, com monitoramento rigoroso.
  • Preferência por acesso venoso central, principalmente para infusões prolongadas ou em doses maiores.

📚 Referências Bibliográficas

  1. McMurray JJV, et al.
    ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure.
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    Dobutamine: Drug Information.
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  5. De Backer D, Biston P, Devriendt J, et al.
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    New England Journal of Medicine. 2010;362(9):779–789.
    doi:10.1056/NEJMoa0907118

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