💊 Adrenalina na UTI – Drogas Vasoativas

A adrenalina (ou epinefrina) é uma catecolamina endógena com potente ação sobre receptores alfa e beta-adrenérgicos, sendo amplamente utilizada em situações críticas, como parada cardiorrespiratória (PCR), choque anafilático, choque refratário e bradicardia sintomática.

Sua versatilidade e potência a tornam essencial em protocolos de emergência e ressuscitação hemodinâmica, tanto em doses de bolus quanto em infusão contínua na UTI.

Mecanismo de Ação

A adrenalina atua nos seguintes receptores:

  • Alfa-1: vasoconstrição periférica → ↑ resistência vascular sistêmica → ↑ pressão arterial
  • Beta-1: ↑ contratilidade cardíaca (inotropismo) e ↑ frequência cardíaca (cronotropismo)
  • Beta-2: broncodilatação e leve vasodilatação em leito muscular

Essa combinação a torna eficaz em situações que requerem suporte circulatório, broncodilatação e reversão de hipotensão extrema.

  1. Parada cardiorrespiratória (PCR)

    • Drogas padrão de escolha nos protocolos de reanimação (1 mg IV a cada 3–5 min)

  2. Choque anafilático grave

    • Administração inicial por via intramuscular (IM) e, em casos refratários, infusão contínua IV

  3. Choque refratário

    • Situações em que noradrenalina e vasopressina não restauram a perfusão adequada

  4. Disfunção cardíaca com hipotensão grave

    • Especialmente quando há baixo débito associado a bradicardia ou disfunção ventricular grave

  5. Bradicardia sintomática refratária à atropina

    • Alternativa quando atropina e marcapasso não são eficazes

  6. Status asmático ou broncoespasmo grave

    • Quando há risco iminente de falência ventilatória, especialmente em pacientes com instabilidade hemodinâmica

  7. Síndrome pós-PCR (pós-ressuscitação)

    • Como suporte inotrópico/vasopressor temporário em pacientes instáveis

  1. Hipertensão arterial grave não controlada

    • Risco aumentado de AVC, dissecção de aorta ou arritmias

  2. Taquiarritmias instáveis (FA, TV, FV)

    • Pode agravar a arritmia ou precipitar parada cardíaca

  3. Doença cardíaca isquêmica ativa

    • Aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio → risco de infarto

  4. Cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva (CMHO)

    • Pode intensificar o gradiente de obstrução e precipitar instabilidade

  5. Uso isolado em choque hemorrágico sem reposição volêmica adequada

    • Vasoconstrição com hipovolemia severa pode piorar perfusão tecidual e acidose

Apresentação

Solução injetável: 1 mg/mL – ampola com 1 mL.

⚗️ Diluição para infusão

A adrenalina deve ser diluída preferencialmente em SG 5% e administrada por bomba de infusão contínua. Abaixo, estão exemplos práticos com concentrações padronizadas na UTI para facilitar a titulação com base no peso do paciente:

✅ Concentrações padronizadas:

💉 Concentração de 60 mcg/mL – Preparo 1 (100 mL)

  • 6 ampolas de adrenalina (1 mg/mL) = 6 mg
  • Adicionar em 94 mL de SG 5%
  • 🔹 Volume final: 100 mL
  • 🔹 Concentração final: 60 mcg/mL

💉 Concentração de 60 mcg/mL – Preparo 2 (250 mL)

  • 16 ampolas de adrenalina (1 mg/mL) = 16 mg
  • Adicionar em 250 mL de SG 5%
  • 🔹 Volume final: 250 mL
  • 🔹 Concentração final: 60 mcg/mL

✅ Opção útil para infusão prolongada, com bomba programada em mL/h.

💉 Diluição para bólus IV (uso emergencial ou pós-PCR)

  • 1 ampola (1 mg/mL) diluída em 10 mL de SF 0,9%
  • 🔹 Concentração final: 100 mcg/mL
  • Para infusão de pequenas doses (ex: 10 a 20 mcg), usar seringa com controle rigoroso de volume

⚠️ Cuidados práticos

  • Utilizar bomba de infusão contínua
  • Acesso venoso central preferencial
  • Monitorar PAM, ECG, lactato e perfusão periférica
  • Evitar administração em bolus fora dos protocolos de PCR
  1. Aspirar 6 mL de adrenalina (1 mg/mL)
  2. Adicionar a 94 mL de SG 5% em frasco ou seringa
  3. Homogeneizar bem
  4. Identificar o frasco

Posologia

✅ Bolus (uso emergencial)

  • Parada cardiorrespiratória (PCR):
    • 1 mg IV direto a cada 3 a 5 minutos
    • Utilizar sem diluir ou diluído em até 10 mL de SF 0,9% (concentração: 100 mcg/mL)
  • Bólus em bradicardia ou hipotensão refratária (off-label):
    • Doses pequenas de 10 a 20 mcg (0,1 a 0,2 mL da ampola diluída) podem ser utilizadas com extrema cautela
    • Apenas sob monitorização rigorosa e em situações críticas específicas

Infusão Contínua (manutenção)

  • Dose inicial recomendada:
    • 0,01 a 0,2 mcg/kg/min
  • Faixa usual de manutenção:
    • 0,05 a 0,5 mcg/kg/min
    • Doses acima de 0,3 mcg/kg/min são reservadas a casos graves e refratários
  • Dose máxima relatada (uso de resgate):
    • Até 2 mcg/kg/min, sob monitoramento rigoroso

🎯 Alvo terapêutico

  • Pressão arterial média (PAM) ≥ 65 mmHg
  • Perfusão periférica mantida
  • Melhora do débito urinário e do lactato
  • Frequência cardíaca e ritmo em níveis toleráveis

💡 Observações práticas

  • Iniciar infusão contínua após reposição volêmica adequada
  • Titulada com base na resposta hemodinâmica
  • Monitorar sinais de taquiarritmia, hipertensão e isquemia miocárdica
  • Associar vasopressina ou corticoide em choques refratários
  • Sempre que possível, administrar por acesso venoso central
Calculadora de Adrenalina

Calculadora de Adrenalina

❓ Perguntas Frequentes sobre o uso de Adrenalina na UTI

  • Quando há choque refratário à noradrenalina, principalmente com disfunção cardíaca associada
  • Em choque anafilático grave, após o uso de adrenalina IM e necessidade de suporte contínuo
  • Quando o paciente está em bradicardia sintomática que não respondeu à atropina
  • Em casos de parada cardíaca revertida, para suporte inotrópico e vasopressor no pós-PCR
  • Bolus (1 mg IV): usado exclusivamente em PCR
  • Infusão contínua: usada em choques refratários, com doses tituladas conforme resposta hemodinâmica
  • O início de ação é imediato (segundos a 1 minuto)
  • Duração curta: 5 a 10 minutos (por isso, em muitos casos, deve ser mantida em infusão contínua)
  • Sim, em emergências, mas com risco de extravasamento
  • Preferir acesso venoso central para infusões prolongadas ou concentrações elevadas
  • Através de pressão arterial média (PAM), frequência cardíaca, débito urinário, lactato sérico e perfusão periférica
  • Monitorar também ECG contínuo para detectar arritmias
  • Taquicardia e arritmias ventriculares
  • Hipertensão súbita
  • Isquemia miocárdica ou mesentérica
  • Ansiedade, tremores e sudorese (em doses baixas, principalmente IM)

Sim, pode ser combinada com:

  • Noradrenalina (em choque refratário com disfunção cardíaca)
  • Dobutamina (para suporte inotrópico adicional)
  • Vasopressina (para redução da dose de catecolaminas)
  • Corticoides, em casos de disfunção adrenal associada

📚 Referências Bibliográficas

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    Critical Care. 2014;18(6):703.
    doi:10.1186/s13054-014-0703-z

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