💊 Cisatracúrio na UTI – Sedação Contínua

O cisatracúrio é um bloqueador neuromuscular do tipo não despolarizante, amplamente utilizado em unidades de terapia intensiva para promover paralisia muscular controlada. Seu perfil farmacocinético, com metabolismo independente da função hepática ou renal, o torna uma excelente opção em pacientes críticos, especialmente os com disfunção orgânica grave.

É indicado principalmente para facilitar a ventilação mecânica, evitar assincronia e em protocolos de sedação profunda com bloqueio neuromuscular, como no controle da síndrome da angústia respiratória aguda (SDRA).

Mecanismo de Ação

O cisatracúrio age bloqueando competitivamente os receptores nicotínicos de acetilcolina na junção neuromuscular, impedindo a despolarização e causando paralisia muscular flácida.

Seu metabolismo ocorre por degradação espontânea no plasma via eliminação de Hofmann, sendo independente de fígado e rins, o que favorece seu uso em pacientes críticos com falência de múltiplos órgãos.

  1. Facilitação da ventilação mecânica

    • Em pacientes com assincronia respiratória, mesmo após sedação otimizada

  2. Síndrome da angústia respiratória aguda (SDRA)

    • Casos moderados a graves (PaO₂/FiO₂ < 150), como parte da estratégia de ventilação protetora

  3. Controle da pressão intracraniana (PIC)

    • Em lesões neurológicas com hipertensão intracraniana refratária, associada à sedação profunda

  4. Intubação orotraqueal

    • Situações de emergência ou programação em pacientes graves

  5. Paralisia controlada em cirurgias ou procedimentos

    • Especialmente em pacientes críticos que permanecem internados na UTI

  6. Evitar movimentação em pacientes sob sedação contínua e ventilação controlada

    • Para permitir sincronia total com o ventilador ou prevenir elevações pressóricas

  1. Hipersensibilidade ao cisatracúrio ou a outros bloqueadores neuromusculares

    • Pode causar reações anafiláticas

  2. Miastenia gravis ou outras doenças neuromusculares

    • Risco aumentado de resposta exagerada e paralisia prolongada

  3. Hipocalemia, acidose ou hipomagnesemia não corrigidas

    • Alterações eletrolíticas podem potencializar o efeito do bloqueio

  4. Uso sem sedação e analgesia adequadas

    • Nunca deve ser utilizado sem sedação profunda; pode causar paralisia consciente

  5. Bloqueio neuromuscular prolongado sem monitorização

    • Deve ser evitado se não houver disponibilidade de TOF ou avaliação clínica frequente

Apresentação

Solução injetável: 2 mg/mL – ampola com 5 mL ou 10 mL.

⚗️ Diluição para infusão

O cisatracúrio é fornecido em solução pronta para uso (ex: 10 mg/5 mL ou 20 mg/10 mL), mas para infusão contínua deve ser diluído em SF 0,9% ou SG 5% para facilitar o ajuste da bomba de infusão e garantir estabilidade.

✅ Concentração usual para infusão: 1 mg/mL

💉 Opção completa (concentração padrão)

  • 50 mL de cisatracúrio 2 mg/mL (total: 100 mg)
  • Diluir em 50 mL de SF 0,9%
  • 🔹 Volume final: 100 mL
  • 🔹 Concentração final: 1 mg/mL

💉 Opção 1:

  • 10 mL de cisatracúrio 2 mg/mL (total 20 mg)
  • Diluir em 90 mL de SF 0,9%
  • 🔹 Volume final: 100 mL
  • 🔹 Concentração final: 0,2 mg/mL

💉 Opção 2 (mais comum e estável):

  • 20 mL de cisatracúrio 2 mg/mL (total 40 mg)
  • Diluir em 80 mL de SF 0,9%
  • 🔹 Volume final: 100 mL
  • 🔹 Concentração final: 0,4 mg/mL

💉 Opção 3 (alta concentração, via central):

  • 40 mL de cisatracúrio 2 mg/mL (total 80 mg)
  • Diluir em 60 mL de SF 0,9%
  • 🔹 Volume final: 100 mL
  • 🔹 Concentração final: 0,8 mg/mL

  1. Aspirar 50 mL de cisatracúrio 2 mg/mL (ex: 5 ampolas de 10 mL)
  2. Adicionar em frasco ou seringa com 50 mL de SF 0,9%
  3. Homogeneizar cuidadosamente
  4. Identificar solução

Posologia

Infusão contínua (manutenção)

Dose usual:

  • 1 a 3 mcg/kg/minuto (microgramas por kg por minuto)
  • Equivalente a 0,06 a 0,18 mg/kg/hora

Ajuste conforme resposta clínica e monitorização com TOF:

  • Meta: TOF 1–2 respostas em 4 estímulos
  • Reduzir dose caso não haja resposta ou sinais de bloqueio profundo

📌 Começar com 1 mcg/kg/min e aumentar gradualmente, conforme necessidade clínica (SDRA grave, PIC elevada, assincronia ventilatória persistente).

Bolus (uso único ou inicial)

Para intubação orotraqueal ou início de bloqueio neuromuscular:

  • 0,1 a 0,2 mg/kg IV em injeção lenta
  • Início de ação: 2–3 minutos
  • Duração média: 40–60 minutos

📌 A dose de bolus pode ser repetida a cada 1 a 2 horas conforme necessidade, ou substituída por infusão contínua.

💡 Observações práticas

  • Sempre usar em conjunto com sedação e analgesia profundas
  • Ajustar dose em pacientes idosos, hipotérmicos ou com acidose
  • O uso prolongado deve ser avaliado diariamente, com pausas para reavaliação neurológica e respiratória

Calculadora de Cisatracúrio

Calculadora de Cisatracúrio

❓ Perguntas Frequentes sobre o uso de Cisatracúrio na UTI

  • Quando o paciente apresenta assincronia respiratória grave apesar da sedação adequada.
  • Em casos de SDRA moderada a grave, como parte de protocolo de ventilação protetora (ex: PaO₂/FiO₂ < 150).
  • Quando há necessidade de controle total da ventilação mecânica, como em ventilação controlada por volume/pressão.
  • Durante intubação orotraqueal com necessidade de bloqueio neuromuscular.

  • O início do bloqueio ocorre em cerca de 2 a 3 minutos após administração IV em bolus.
  • O pico do efeito é atingido em 5 minutos.
  • Duração média do bloqueio neuromuscular: 40 a 60 minutos (em dose única).

  • Após interrupção da infusão contínua, a recuperação da função muscular começa geralmente em 40 a 60 minutos.
  • Em uso prolongado (>24h), pode haver discreto prolongamento da recuperação, mas sem acúmulo clinicamente significativo.

  • Quando houver melhora clínica (ex: aumento de complacência pulmonar, melhora da oxigenação, redução da sedação necessária).
  • Se sinais de bloqueio excessivo: ausência total de TOF, apneia prolongada, fraqueza muscular residual.
  • Em protocolos de pausa diária da sedação ou transição para ventilação espontânea.

  • Verificar se há sedação e analgesia adequadas (nunca usar bloqueador sem sedação profunda).
  • Avaliar possíveis falhas de bomba, desconexão do acesso venoso ou subdosagem.
  • Confirmar o TOF e o volume real de infusão na bomba.
  • Em caso de recuperação parcial, considerar novo bolus ou ajuste da taxa de infusão.

📚 Referências Bibliográficas

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    Neuromuscular blocking agents in critical care: a review of the literature and a framework for use.
    Canadian Journal of Anesthesia. 2012;59(9):865–873.
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