💊 Propofol na UTI – Sedação Contínua

O propofol é um sedativo-hipnótico de ação rápida amplamente utilizado na terapia intensiva para sedação de pacientes sob ventilação mecânica, procedimentos invasivos e controle da pressão intracraniana. Sua principal vantagem é o início de ação e recuperação rápidos, permitindo ajustes finos na sedação contínua.

Mecanismo de Ação

O propofol atua potencializando a ação do GABA (ácido gama-aminobutírico) no sistema nervoso central, promovendo um efeito sedativo, hipnótico e amnésico. Sua ação rápida e curta se deve à alta lipossolubilidade, com início em 30–60 segundos e duração de 3 a 10 minutos após a suspensão da infusão.

  1. Sedação contínua de pacientes em ventilação mecânica

    • Ideal para controle fino da sedação devido ao rápido início e curta duração de ação.

  2. Indução anestésica para intubação orotraqueal

    • Usado em sequência rápida de intubação ou procedimentos eletivos.

  3. Procedimentos breves na UTI ou emergência

    • Cardioversão elétrica, broncoscopia, endoscopia digestiva, entre outros.

  4. Controle da pressão intracraniana

    • Usado em pacientes neurocríticos por reduzir o metabolismo cerebral.

  5. Tratamento adjuvante de crises epilépticas refratárias

    • Em status epilepticus não responsivo a benzodiazepínicos e barbitúricos.

  6. Sedação de pacientes agitados ou com delirium refratário

    • Associado a outros sedativos/analgésicos quando indicado.

  1. Alergia ao propofol ou componentes da formulação

    • Inclui alergia a ovo, soja ou produtos derivados (usados no veículo da emulsão lipídica).

  2. Hipotensão grave ou choque não compensado

    • Risco de piora do quadro hemodinâmico pela ação vasodilatadora.

  3. Insuficiência cardíaca grave

    • Pode acentuar bradicardia e reduzir o débito cardíaco.

  4. Síndrome do propofol (ou risco aumentado)

    • Evitar uso contínuo em altas doses por longos períodos (>48h com >5 mg/kg/h).

  5. Disfunção hepática ou renal grave sem monitorização adequada

    • A droga é metabolizada principalmente no fígado, com eliminação renal dos metabólitos.

Apresentação

Emulsão injetável:

    • 10 mg/mL – ampola com 10 mL (Propovan®);
    • 10 mg/mL – ampola com 20 mL (Diprivan®, Lipuro®, Profolen®, Propotil®, Propovan®, genérico);
    • 10 mg/mL – ampola com 50 mL (Propovan®);
    • 10 mg/mL – frasco-ampola com 10 mL (Provive®);
    • 10 mg/mL – frasco-ampola com 20 mL (Lipuro®, Provive®, Spiva MCT-LCT®, Hyfol®, Oponap®, genérico);
    • 10 mg/mL – frasco-ampola com 50 mL (Diprivan®, Lipuro®, Provive®, genérico);
    • 10 mg/mL – frasco-ampola com 100 mL (Diprivan®, Lipuro®, Provive®, genérico);
    • 10 mg/mL – seringa preenchida com 50 mL (Diprivan PFS®);
    • 20 mg/mL – frasco-ampola com 50 mL (Diprivan®, Fresofol®, genérico);
    • 20 mg/mL – seringa preenchida com 50 mL (Diprivan PFS®).

⚗️ Diluição para infusão

O propofol é fornecido em emulsão lipídica pronta para uso, portanto não deve ser diluído. A administração é feita diretamente na bomba de infusão, respeitando os cuidados com estabilidade, contaminação e troca regular do equipo.

🔹 Concentração final: 10 mg/mL

⚠️ Importante

  • O propofol não deve ser diluído com SF 0,9% ou SG 5% — isso altera a estabilidade da emulsão e aumenta o risco de contaminação.
  • Utilizar equipo exclusivo, preferencialmente com filtro de 0,22 μm.
  • Trocar o frasco e o equipo a cada 12 horas para evitar contaminação bacteriana.
  • Manter o frasco sempre fechado e protegido da luz direta.

  1. Verifique a integridade do frasco (propofol vem pronto para uso).
  2. Conecte o frasco ou seringa à bomba de infusão, utilizando equipo apropriado.
  3. Programe a dose prescrita em mg/kg/h, convertendo para mL/h com base na concentração de 10 mg/mL.
  4. Identifique o frasco com nome do paciente, dose e hora de início.
  5. Troque a solução e o equipo a cada 12 horas.

Posologia

Infusão contínua (manutenção)

Dose usual: 1 a 4 mg/kg/h, titulada conforme o nível de sedação desejado (ex: RASS -2 a -3)

Faixa de dose segura:

  • Mínima: 0,3 mg/kg/h
  • Máxima: até 5 mg/kg/h (por tempo limitado e com monitoramento rigoroso)

📌 A titulação deve ser feita com aumentos de 0,5 a 1 mg/kg/h, avaliando a resposta clínica e parâmetros hemodinâmicos.

💉 Bolus (opcional)

  • Indução anestésica: 1 a 2 mg/kg em dose única IV lenta, especialmente para intubação orotraqueal ou procedimentos rápidos
  • Sedação em procedimentos breves (ex: cardioversão):
    0,5 a 1 mg/kg em bolus, podendo ser repetido conforme resposta

⚠️ Em pacientes críticos, o bolus deve ser usado com extrema cautela devido ao risco de hipotensão e bradicardia súbitas.

Calculadora de Propofol

Calculadora de Propofol para Infusão Contínua

❓ Perguntas Frequentes sobre o uso de Propofol na UTI

  • Quando o paciente estiver menos sedado que o desejado (ex: RASS 0 a +1) e apresentar sinais de agitação, desconforto com a ventilação ou movimentação excessiva.
  • Sempre confirmar se a bomba está funcionando corretamente, e se não há dor ou delirium associados.

📌 Aumente a infusão em incrementos de 0,5 a 1 mg/kg/h, reavaliando a cada 10–15 minutos.

  • Quando o paciente apresentar sedação profunda (RASS -4 a -5), hipotensão ou bradicardia.
  • Em contextos de melhora clínica, início de desmame ventilatório ou sinais de acúmulo do fármaco.

📌 Reduza a taxa de infusão em 25 a 50%, monitorando o nível de sedação e parâmetros hemodinâmicos.

  • O propofol possui início de ação extremamente rápido: cerca de 30 a 60 segundos.
  • O efeito máximo é geralmente atingido em 1 a 2 minutos.

  • A sedação dura em média 3 a 10 minutos após interrupção da infusão.
  • Em infusões prolongadas, pode haver acúmulo tecidual, prolongando o tempo de recuperação.

  1. Reduzir a infusão gradualmente, em 10% a 20% da dose a cada 10–20 minutos.
  2. Monitorar o paciente com escala de sedação (ex: RASS) e sinais clínicos.
  3. Evitar suspensões abruptas em infusões prolongadas, especialmente se o paciente estiver instável.

  1. Reavaliar se a causa da agitação é realmente por falta de sedação:

    • Dor, delirium, abstinência, hipoxemia ou retenção urinária são causas comuns.

  2. Verificar a bomba de infusão, o acesso venoso e se há interações medicamentosas.

  3. Considere as seguintes abordagens:

    • Adicionar analgésico ou sedativo adjuvante (ex: fentanil, midazolam, dexmedetomidina)
    • Avaliar necessidade de antipsicóticos se houver delirium
    • Evitar aumentar indefinidamente a dose, devido ao risco de efeitos graves, como síndrome do propofol

📚 Referências Bibliográficas

  1. Devlin JW, Skrobik Y, Gélinas C, et al.
    Clinical Practice Guidelines for the Prevention and Management of Pain, Agitation/Sedation, Delirium, Immobility, and Sleep Disruption in Adult Patients in the ICU (PADIS Guidelines).
    Critical Care Medicine. 2018;46(9):e825–e873.
    doi:10.1097/CCM.0000000000003299
  2. Marik PE.
    Propofol: therapeutic indications and side-effects.
    Current Pharmaceutical Design. 2004;10(29):3639-3649.
    doi:10.2174/1381612043383402
  3. Mirrakhimov AE, Voore P, Halytskyy O, Khan M, Ali AM.
    Propofol infusion syndrome in adults: a clinical update.
    Critical Care Research and Practice. 2015; Article ID 260385.
    doi:10.1155/2015/260385
  4. UpToDate.
    Propofol: Drug Information.
    Disponível em: https://www.uptodate.com
  5. Sociedade Brasileira de Medicina Intensiva (AMIB).
    Manual de Terapêutica Intensiva. Última edição disponível.
  6. Oh’s Intensive Care Manual.
    7th Edition – Chapter: Sedation in the ICU.
    Butterworth-Heinemann, 2014.

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