💊 Morfina na UTI – Sedação Contínua

A morfina é um opioide clássico amplamente utilizado no controle da dor aguda e crônica. Na UTI, é usada principalmente para analgesia contínua em pacientes críticos, embora seja menos usada que o fentanil devido a seu perfil farmacológico (ação mais lenta e risco de hipotensão).

Mecanismo de Ação

Atua como agonista dos receptores opioides μ (mu) no sistema nervoso central e periférico, promovendo analgesia, sedação e euforia. Possui início de ação mais lento e meia-vida mais longa que o fentanil.

A morfina é indicada quando se busca analgesia potente e contínua, especialmente em pacientes internados com dor aguda significativa. Suas principais indicações incluem:

  1. Dor aguda intensa com estabilidade hemodinâmica

    • Pós-operatório, politrauma, pancreatite aguda, IAM, entre outros.

  2. Analgesia contínua em pacientes sob ventilação mecânica

    • Alternativa ao fentanil, especialmente em ambientes com recursos limitados ou onde se deseja um perfil farmacológico mais duradouro.

  3. Cuidados paliativos em UTI

    • Controle da dor e dispneia em pacientes em final de vida.

  4. Síndrome coronariana aguda (SCA)

    • Quando há dor torácica intensa não responsiva a nitratos (morfina reduz a pré-carga e alivia a dor).

  5. Pacientes sem acesso à drogas de ação mais curta

    • Pode ser utilizada em infusão contínua onde fentanil não está disponível.

O uso da morfina deve ser evitado ou feito com extrema cautela em algumas condições clínicas, devido ao risco aumentado de efeitos adversos:

  1. Hipersensibilidade à morfina

    • Inclui histórico de reação alérgica grave.

  2. Depressão respiratória não controlada

    • Especialmente em pacientes sem suporte ventilatório invasivo.

  3. Hipotensão significativa

    • A morfina pode causar vasodilatação e queda da PA por liberação de histamina.

  4. Traumatismo cranioencefálico (TCE) ou hipertensão intracraniana

    • Pode obscurecer sinais neurológicos e elevar a PIC.

  5. Obstrução intestinal, íleo paralítico ou constipação grave

    • Risco de piora da motilidade intestinal.

  6. Insuficiência renal avançada

    • O metabólito ativo da morfina (M6G) se acumula em pacientes com disfunção renal, podendo levar a sedação prolongada e depressão respiratória.

  7. Uso concomitante com depressores do SNC

    • Aumenta risco de sedação profunda e depressão ventilatória (especialmente sem monitorização).

Apresentação

Solução injetável:

    • 1 mg/mL – ampola com 2 mL (Dimorf®);
    • 0,1 mg/mL, 0,2 mg/mL, 1 mg/mL e 10 mg/mL – ampola com 1 mL (Dimorf®, Dolo Moff®, genérico);

⚗️ Diluição para infusão

A Morfina é diluída em solução de cloreto de sódio 0,9% (SF 0,9%) ou glicose 5%. A concentração final mais comum na UTI é:

  • 10 mL de morfina (10 mg/mL) → totalizando 100 mg de morfina
  • Diluir em 90 mL de SF 0,9%
  • Volume final: 100 mL
  • Concentração final: 1 mg/mL

Exemplo usando Morfina 10 mg/mL com 01 mL:

  • Separe 10 ampolas de 10 mg/mL com 1 mL cada
  • Aspire o conteúdo total de 100 mg de morfina (10 mL)
  • Injete em uma seringa ou frasco com capacidade para 100 mL
  • Complete com 90 mL de SF 0,9%
  • Agite suavemente para homogeneizar a solução
  • Identifique o frasco ou seringa.

Posologia

Dose de manutenção usual:

  • 0,07 a 0,5 mg/kg/hora (ajustar conforme resposta e peso do paciente)
  • Pode ser titulada com incrementos de 0,5 mg/h

Bólus (Opcional):

  • 2 a 4 mg IV lento
  • Pode ser repetido conforme resposta, respeitando intervalos de 4 a 6 horas

Calculadora de Morfina

Calculadora de Morfina para Infusão Contínua

❓ Perguntas Frequentes sobre o uso de Morfina na UTI

Quando o paciente apresentar dor mal controlada, mesmo após bolus ou infusão contínua:

  • Escala EV > 3
  • Escala CPOT ≥ 3
  • Sinais fisiológicos de dor (taquicardia, hipertensão, inquietação)

📌 Dica prática: Aumentar a infusão em 0,2 a 0,5 mg/h, reavaliando a dor e os sinais vitais após 30 minutos.

Quando houver:

  • Sedação excessiva
  • Bradipneia ou sinais de depressão respiratória
  • Hipotensão persistente
  • Função renal comprometida com sinais de acúmulo

📌 Reduzir a dose de forma gradual, de preferência em 25–50%, e monitorar a resposta clínica.

  • Após bolus: 5 a 10 minutos
  • Em infusão contínua: efeito inicial observado em 15 a 30 minutos
  • Pico de ação: aproximadamente 30 a 60 minutos

A duração do efeito da morfina é de cerca de 3 a 4 horas após bolus. Pode durar mais em pacientes com:

  • Idade avançada
  • Disfunção renal
  • Uso prolongado (acúmulo do metabólito ativo M6G)
  1. Reduzir a infusão em 10% a 25% a cada 2 a 4 horas, conforme resposta
  2. Avaliar sinais de abstinência (agitação, sudorese, taquicardia)
  3. Considerar uso de adjuvantes (dipirona, paracetamol, cetamina) para reduzir a necessidade de opioide
  4. Em pacientes conscientes e em recuperação, pode-se migrar para opioides orais

  1. Reavaliar possíveis causas da dor (ex: dor neuropática, delirium, abstinência, posicionamento)

  2. Confirmar se há funcionamento adequado da bomba e via de administração

  3. Considerar as seguintes abordagens:

  • Adicionar adjuvantes não opioides (AINEs, dipirona, cetamina)
  • Associar sedativo, caso o desconforto esteja associado à agitação
  • Avaliar troca para outro opioide (ex: fentanil) se houver suspeita de tolerância
  • Consultar equipe de dor ou cuidados paliativos, se disponível

📌 Evite simplesmente aumentar indefinidamente a dose, pois isso aumenta o risco de efeitos adversos sem ganho analgésico proporcional.

📚 Referências Bibliográficas

  1. Devlin JW, Skrobik Y, Gélinas C, et al.
    Clinical Practice Guidelines for the Prevention and Management of Pain, Agitation/Sedation, Delirium, Immobility, and Sleep Disruption in Adult Patients in the ICU (PADIS Guidelines).
    Crit Care Med. 2018;46(9):e825–e873. doi:10.1097/CCM.0000000000003299
  2. Barr J, Fraser GL, Puntillo K, et al.
    Clinical Practice Guidelines for the Management of Pain, Agitation, and Delirium in Adult Patients in the Intensive Care Unit.
    Crit Care Med. 2013;41(1):263–306. doi:10.1097/CCM.0b013e3182783b72
  3. Sociedade Brasileira de Medicina Intensiva (AMIB).
    Manual de Terapêutica Intensiva.
    Última edição disponível.
  4. Durocher A, et al.
    Pharmacokinetics and clinical effects of morphine in critically ill patients.
    Crit Care Med. 1998;26(3):431–437.
  5. UpToDate.
    Morphine: Drug information.
    Disponível em: https://www.uptodate.com
  6. WHO Model List of Essential Medicines – 2023.
    Morphine, injection.
    Disponível em: https://www.who.int/medicines/publications/essentialmedicines/en/

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima