💊 Midazolam na UTI – Sedação Contínua

O midazolam é uma benzodiazepina de ação curta amplamente utilizada em UTIs para sedação contínua, principalmente em pacientes intubados. Possui propriedades ansiolíticas, hipnóticas, anticonvulsivantes e amnésicas.

Mecanismo de Ação

Age potencializando o efeito do GABA (ácido gama-aminobutírico), principal neurotransmissor inibitório do SNC, aumentando a entrada de cloro nos neurônios e promovendo depressão do sistema nervoso central.

O midazolam é indicado para pacientes que necessitam de:

  1. Sedação contínua em ventilação mecânica

    • Ajuda a reduzir a ansiedade, garantir conforto e facilitar a sincronia com o ventilador.

    • Pode ser usado em protocolos de sedação leve a profunda, conforme metas de RASS.

  2. Indução da anestesia (em ambiente controlado)

    • Utilizado como parte do protocolo de intubação orotraqueal, geralmente associado a opioides e bloqueadores neuromusculares.

  3. Crises convulsivas refratárias

    • Eficaz em status epilepticus, especialmente quando há necessidade de infusão contínua após falha de benzodiazepínicos por via enteral ou bolus.

  4. Procedimentos invasivos em pacientes instáveis ou com risco de desconforto

    • Cardioversão elétrica, punções, drenagens, entre outros.

  5. Controle de agitação severa em pacientes críticos

    • Quando o paciente apresenta risco para si mesmo ou para a equipe.

O uso do midazolam deve ser evitado ou usado com extrema cautela nos seguintes casos:

  1. Hipersensibilidade conhecida a benzodiazepínicos

    • Inclui alergia a midazolam ou a qualquer componente da fórmula.

  2. Depressão respiratória sem suporte ventilatório

    • Pode agravar a hipoventilação e levar à parada respiratória.

  3. Miastenia gravis

    • Pode causar fraqueza muscular significativa e agravar a insuficiência respiratória.

  4. Insuficiência hepática grave

    • Pode prolongar a meia-vida do midazolam, levando a sedação excessiva e acúmulo.

  5. Gravidez (categoria D) e amamentação

    • Só deve ser usado se o benefício justificar o risco para o feto. É excretado no leite materno.

  6. Pressão arterial muito baixa sem suporte vasopressor

    • Pode agravar a hipotensão e comprometer a perfusão orgânica.

Apresentação

Solução injetável:

    • 1 mg/mL – ampola com 5 mL (Dormire®, Dormium® e genérico);
    • 1 mg/mL – frasco-ampola com 50 mL e 100 mL (Prontomid®);
    • 5 mg/mL – ampola com 3 mL e 10 mL (Dormonid®, Dormire®, Dormium®, Hypozam® e genérico).

⚗️ Diluição para infusão

O midazolam é diluído em solução de cloreto de sódio 0,9% (SF 0,9%) ou glicose 5%. A concentração final pode variar, mas a mais comum na UTI é:

  • Midazolam 5 mg/mL: 20 mL + 80 mL de SF 0,9%
  • Resulta em uma solução com 100mL de  concentração final = 1 mg/mL

💡 Essa concentração permite fácil cálculo de dose por hora (ex: 5 mL/h = 5 mg/h)

Exemplo usando Midazolam 5 mg/mL com 10mL:

  • Retire 02 ampola de 10 mL de midazolam (50 mg).
  • Aspire todo o conteúdo (totalizando 100 mg).
  • Injete o midazolam em um frasco de soro fisiológico de 80 mL OU complete com SF 0,9% em uma seringa de 80 mL estéril.
  • Misture suavemente e identifique o frasco/seringa com etiqueta legível contendo: nome da droga, concentração, data e hora do preparo.

Posologia

  • Dose inicial: 0,02 a 0,1 mg/kg em bolus (opcional)
  • Dose de manutenção:

    • Adultos: 0,02 a 0,1 mg/kg/hora
    • Ajustar conforme sedação desejada (RASS -5 a 0)
Calculadora de Midazolam

Calculadora de Midazolam para Sedação Contínua

❓ Perguntas Frequentes sobre o uso de Midazolam na UTI

  • Quando o paciente estiver agitado, em desconforto ou com sincronia inadequada com o ventilador.
  • Quando o RASS estiver acima da meta (ex: RASS 0 ou +1, quando o desejado é -2).
  • Após 3 a 5 minutos de um ajuste anterior sem resposta clínica adequada.

📌 Dica prática: aumente em incrementos de 0,01 a 0,02 mg/kg/h, reavaliando clinicamente após 15 a 30 minutos.

  • Quando o paciente apresentar sedação profunda excessiva (RASS -4 ou -5).
  • Em caso de instabilidade hemodinâmica (hipotensão, bradicardia) ou bradipneia.
  • Se houver acúmulo da droga, especialmente em pacientes com disfunção hepática, idosos ou após uso prolongado (>48h).

📌 Dica prática: reduza a dose em 25% a 50% e reavalie o nível de sedação.

  • A sedação inicia em 1 a 5 minutos, com efeito máximo em até 10 minutos após o início ou ajuste da infusão.

💡 É comum associar um bolus inicial (0,02 a 0,1 mg/kg) para acelerar o início da sedação.

O efeito do midazolam, após interrupção da infusão, pode durar de 30 minutos a várias horas, dependendo de:

  • Tempo total de uso (meia-vida aumenta com uso prolongado)
  • Função hepática e renal do paciente
  • Dose utilizada

⚠️ Em pacientes críticos, a meia-vida pode ultrapassar 6 horas.

  1. Reduzir gradualmente a taxa de infusão, em 10% a 25% a cada 30–60 minutos, conforme resposta.
  2. Monitorar sinais de agitação ou desconforto.
  3. Avaliar frequentemente com escala de sedação (RASS).
  4. Considerar troca para sedativo de meia-vida mais curta (ex: dexmedetomidina), se necessário.

  1. Reavalie possíveis causas da agitação: dor, delirium, abstinência, hipoxemia, febre, hipoglicemia.
  2. Verifique se há sinergismo com outras medicações ou interações.
  3. Considere:

  • Adicionar um opioide (se não estiver sendo usado)
  • Associar outro sedativo (ex: propofol ou dexmedetomidina)
  • Avaliar necessidade de antipsicótico (ex: haloperidol) se houver suspeita de delirium
  • Iniciar bloqueio neuromuscular em casos de agitação refratária com risco de autoextubação ou lesão

⚠️ O midazolam tem efeito teto — aumentar indefinidamente a dose não trará benefício e pode apenas acumular e retardar a recuperação.

Sim, mas com muita cautela. O midazolam é metabolizado no fígado, e sua meia-vida pode aumentar significativamente nesses pacientes.

Prefira doses menores, evite bolus e monitore sinais de acúmulo (sedação prolongada, rebaixamento persistente).

Sim. Idosos têm maior sensibilidade ao midazolam e menor depuração hepática. Use doses menores, com ajustes lentos e monitoramento frequente.

Sim. Em casos de tolerância, efeitos adversos ou necessidade de sedação mais leve, pode-se alternar ou associar com:

  • Propofol
  • Dexmedetomidina
  • Haloperidol (se delirium)
  • Opioides para analgesia

📚 Referências Bibliográficas

  1. Barr J, et al. Clinical practice guidelines for the management of pain, agitation, and delirium in adult patients in the intensive care unit. Crit Care Med. 2013.
  2. Devlin JW, et al. 2018 Clinical Practice Guidelines for the Prevention and Management of Pain, Agitation/Sedation, Delirium, Immobility, and Sleep Disruption in Adult Patients in the ICU. Crit Care Med. 2018.
  3. Manual de Terapêutica Intensiva – AMIB (última edição).

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