Bloqueio AV de 1º Grau

O bloqueio atrioventricular de primeiro grau, comumente abreviado como bloqueio AV de 1º grau, representa um atraso na condução elétrica do coração sem interromper a sequência normal dos batimentos cardíacos. Esta condição é caracterizada por um prolongamento do intervalo PR no eletrocardiograma (ECG), mas, diferentemente dos bloqueios AV de graus mais elevados, não resulta em batimentos cardíacos irregulares ou interrompidos. Embora frequentemente assintomático e considerado benigno, o bloqueio AV de 1º grau pode estar associado a outras condições cardíacas subjacentes e merece uma avaliação cuidadosa em contextos clínicos.

Fisiopatologia

A sua fisiopatologia envolve um atraso na condução do impulso elétrico através do nó AV, o que resulta em um prolongamento do intervalo PR no eletrocardiograma (ECG). Esse atraso pode ocorrer devido a diversas causas, como alterações estruturais no tecido cardíaco, fibrose, isquemia, ou o uso de certos medicamentos que afetam a condução elétrica. Embora o impulso elétrico ainda consiga passar através do nó AV e alcançar os ventrículos, o retardo indica uma anomalia na comunicação entre os átrios e os ventrículos. Em muitos casos, essa condição é assintomática e detectada incidentalmente, mas em outros, pode ser um sinal de uma doença cardíaca subjacente mais significativa.

ECG Normal

BAV 1º

BAV 1º

BAV 1º

Para identificar o bloqueio AV de 1º grau no eletrocardiograma (ECG), você deve procurar pelo prolongamento do intervalo PR. Normalmente, o intervalo PR varia de 120 a 200 milissegundos (ms). No bloqueio AV de 1º grau, esse intervalo excede 200 ms. É importante notar que, embora o intervalo PR esteja prolongado, todas as ondas P são seguidas por um complexo QRS, indicando que a condução elétrica, embora atrasada, ainda está ocorrendo de forma contínua e sincronizada. Essa característica é a principal indicação visual do bloqueio AV de 1º grau no ECG.

O bloqueio AV de 1º grau pode ser causado por várias condições. Algumas das causas mais comuns incluem:

  • Fibrose ou esclerose idiopática do sistema de condução: Essa é uma causa comum e ocorre quando há um acúmulo de tecido fibroso no sistema de condução elétrica do coração.
  • Doença cardíaca isquêmica: A isquemia, ou falta de fluxo sanguíneo adequado para o coração, pode levar ao bloqueio AV.
  • Miocardite: Inflamação do músculo cardíaco pode afetar a condução elétrica.
  • Infarto agudo do miocárdio: Especialmente o infarto do miocárdio inferior pode causar bloqueio AV.
  • Tônus vagal aumentado: Esse é comum em atletas e pode ocorrer devido ao aumento da atividade do nervo vago.
  • Perturbação dos níveis de eletrólitos: Desequilíbrios nos níveis de eletrólitos no sangue podem afetar a condução elétrica.
  • Doenças congênitas, inflamatórias e degenerativas do coração: Algumas condições hereditárias ou inflamatórias podem levar ao bloqueio AV.
  • Medicamentos: Certos medicamentos, como beta-bloqueadores (por exemplo, propranolol), podem causar bloqueio AV.

Em um eletrocardiograma, o bloqueio AV de 1º grau seria descrito pela presença de um intervalo PR prolongado, acima de 200 milissegundos (ms). Isso significa que há um atraso na condução do impulso elétrico entre os átrios e os ventrículos, mas todas as ondas P ainda são seguidas por um complexo QRS. A descrição típica seria algo como:

“prolongamento do intervalo PR para mais de 200 ms, indicando bloqueio atrioventricular de primeiro grau”.

Assim, mesmo com esse atraso, a condução elétrica ainda é consistente e sincronizada.

O bloqueio AV de 1º grau geralmente não requer tratamento específico, especialmente se for assintomático. Em muitos casos, não causa sintomas e não antecipa problemas cardiológicos graves.

No entanto, se o bloqueio for identificado como resultado de uma condição subjacente, como doença cardíaca isquêmica ou o uso de certos medicamentos, o tratamento pode envolver ajustes na medicação ou o tratamento da condição primária.

Em situações raras em que o bloqueio AV de 1º grau causa sintomas como tonturas, fadiga ou palpitações, o médico pode considerar a instalação de um pacemaker temporário ou permanente para garantir a condução adequada dos impulsos elétricos.

Referências

  1. Samesima N, God EG, Kruse JCL, et al. Brazilian Society of Cardiology Guidelines on the Analysis and Issuance of Electrocardiographic Reports – 2022. Arq Bras Cardiol. 2022; 119(4):638-680. Erratum in: Arq Bras Cardiol. 2022; 119(6):1008.
  2. Kusumoto FM, Schoenfeld MH, Barrett C, et al. 2018 ACC/AHA/HRS Guideline on the Evaluation and Management of Patients With Bradycardia and Cardiac Conduction Delay: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines and the Heart Rhythm Society. Circulation. 2019; 140(8):e382-e482. Erratum in: Circulation. 2019; 140(8):e506-e508.
  3. Mirvis DM, Goldberger AL. Electrocardiography. In: Zipes DP, Libby P, Bonow RO, et al. Braunwald’s Heart Disease: A Textbook of Cardiovascular Medicine. 11th ed. Philadelphia: Elsevier, 2018.
Avatar photo

Dr. Marcelo Negreiros

Autor do Artigo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima