💊 Rocurônio na UTI – Sedação Contínua

O rocurônio é um bloqueador neuromuscular não despolarizante de ação intermediária e início rápido, utilizado principalmente para intubação orotraqueal de sequência rápida e paralisia muscular controlada em pacientes sob ventilação mecânica.

Diferente do cisatracúrio, o rocurônio é metabolizado parcialmente pelo fígado e excretado por fígado e rins, o que exige cautela em pacientes com disfunção hepatorrenal. Ainda assim, sua ação rápida e previsível o torna uma excelente opção em contextos emergenciais e operatórios na UTI.

Mecanismo de Ação

O rocurônio atua como antagonista competitivo dos receptores nicotínicos de acetilcolina na junção neuromuscular, bloqueando a transmissão neuromuscular e promovendo paralisia muscular flácida.

Sua ação se inicia em 30 a 60 segundos e tem duração de 30 a 60 minutos, podendo ser mantida com doses repetidas ou infusão contínua.

  1. Intubação orotraqueal de sequência rápida

    • Alternativa segura ao succinilcolina, especialmente em pacientes com contraindicações a bloqueadores despolarizantes

  2. Paralisia muscular para ventilação controlada

    • Em pacientes com assincronia respiratória grave não resolvida com sedação/analgesia

  3. Facilitação de procedimentos na UTI

    • Ex: broncoscopia, troca de tubo, reposicionamento em ventilação prona

  4. Controle de movimentos em sedação profunda

    • Situações em que o movimento pode prejudicar a oxigenação, a hemodinâmica ou a PIC

  5. Pré-anestesia para cirurgias em pacientes críticos

    • Como agente de relaxamento muscular para facilitar manobras e intubação

  1. Hipersensibilidade conhecida ao rocurônio ou a outros bloqueadores neuromusculares

    • Pode causar reações anafiláticas graves

  2. Doenças neuromusculares como miastenia gravis ou síndrome de Eaton-Lambert

    • Risco de bloqueio neuromuscular prolongado e hipersensibilidade à droga

  3. Disfunção hepática ou renal severa (relativa)

    • Metabolismo e excreção dependem parcialmente de fígado e rins; usar com cautela

  4. Ausência de sedação adequada

    • Nunca utilizar sem sedação e analgesia completas – o paciente pode estar consciente, mas paralisado

  5. Uso prolongado sem monitoramento (TOF ou clínico)

    • Risco de paralisia residual e complicações neurológicas

Apresentação

Solução injetável: 10 mg/mL – frasco-ampola com 5 mL

⚗️ Diluição para infusão

O rocurônio é fornecido em ampolas prontas para uso (ex: 10 mg/mL em 5 mL ou 10 mL). Para uso em infusão contínua, recomenda-se a diluição da droga em SF 0,9% ou SG 5% para facilitar a titulação da dose e garantir maior segurança na administração.

✅ Concentração recomendada: 1 mg/mL

Essa concentração é ideal para uso em bomba de infusão, facilitando cálculos e ajustes de dose baseados em peso.

💉 Exemplo de preparo:

  • 5 mL de rocurônio 10 mg/mL → total: 50 mg
  • Adicionar 45 mL de SF 0,9%
  • 🔹 Volume final: 50 mL
  • 🔹 Concentração final: 1 mg/mL

⚠️ Cuidados importantes

  • Usar bomba de infusão contínua
  • Preferência por via central em uso prolongado ou alta concentração
  • Estabilidade da solução: usar em até 24h após preparo, armazenada sob refrigeração
  • Monitorar TOF (Train-of-Four) ou sinais clínicos para evitar bloqueio excessivo
  1. Aspire 5 mL de rocurônio 10 mg/mL (totalizando 50 mg)
  2. Injete em um frasco ou seringa com 45 mL de SF 0,9%
  3. Homogeneíze a solução com movimentos suaves
  4. Identifique o recipiente.

Posologia

Infusão contínua (manutenção)

Dose usual em UTI:

  • 0,3 a 0,6 mg/kg/hora

📌 A dose deve ser ajustada com base no:

  • TOF (Train-of-Four): idealmente TOF 1–2/4
  • Estado clínico do paciente (assincronia, necessidade de sedação profunda, recuperação neurológica)

Bolus (uso único ou inicial)

Para intubação orotraqueal de sequência rápida:

  • 0,6 a 1,2 mg/kg IV
  • Início de ação: 30 a 60 segundos
  • Duração média: 30 a 60 minutos
  • A dose de 1,2 mg/kg oferece bloqueio mais rápido e profundo (semelhante ao succinilcolina)

Para manutenção do bloqueio por bolus intermitente:

  • 0,1 a 0,2 mg/kg IV, conforme necessidade clínica

💡 Observações práticas

  • Sempre associar o uso de rocurônio à sedação e analgesia profundas
  • Reduzir dose em disfunção hepática ou renal
  • Monitorar sinais de bloqueio residual, especialmente em uso prolongado
  • Preferir pausas diárias do bloqueio neuromuscular para reavaliação neurológica e respiratória

Calculadora de Rocurônio

Calculadora de Rocurônio

❓ Perguntas Frequentes sobre o uso de Rocurônio na UTI

  • Quando se deseja bloqueio neuromuscular de início rápido, como na intubação orotraqueal de sequência rápida
  • Em pacientes que necessitam de paralisia controlada por tempo limitado, com necessidade de rápida reversão (ex: pós-operatório, ventilação controlada temporária)
  • Alternativa ao cisatracúrio quando este não está disponível ou em situações emergenciais

  • 30 a 60 segundos após administração IV, dependendo da dose
  • É o bloqueador não despolarizante com início mais rápido, se comparado ao vecurônio e cisatracúrio

  • Duração média de 30 a 60 minutos, podendo ser mais prolongada em pacientes com função hepática ou renal comprometida
  • Duração também pode se prolongar com doses cumulativas ou infusão contínua

  • Através do TOF (Train-of-Four): estímulos periféricos observando número de respostas musculares
  • Meta em ventilação controlada: TOF 1–2 de 4
  • Também pode-se monitorar indiretamente pela ausência de movimento e sincronia com o ventilador

  • Quando o paciente inicia melhora clínica e permite transição para ventilação espontânea
  • Se o TOF estiver ausente ou o paciente apresentar bradicardia, hipotonia ou apneia prolongada
  • Após estabilização da sedação e oxigenação, especialmente em pacientes que não precisam mais de paralisia total

  • Avaliar a dose total administrada e o tempo desde a última dose
  • Confirmar a função da bomba de infusão
  • Monitorar o TOF e considerar novo bolus ou ajuste da infusão
  • Certificar-se de que o paciente esteja com sedação e analgesia adequadas, pois o rocurônio não possui efeito sedativo

📚 Referências Bibliográficas

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  5. Artime CA, Avidan MS.
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    Continuing Education in Anaesthesia Critical Care & Pain. 2006;6(5):170–173.
    doi:10.1093/bjaceaccp/mkl032

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