
💊 Tiopental na UTI – Sedação Contínua
O tiopental (ou tiopentona sódica) é um barbitúrico de ação ultrarrápida, utilizado principalmente em contextos de indução anestésica, controle de crises convulsivas e sedação profunda em pacientes com hipertensão intracraniana. Apesar de seu uso ter se tornado menos comum com o surgimento de agentes mais modernos, o tiopental ainda tem papel importante em situações específicas da terapia intensiva.
Mecanismo de Ação
O tiopental atua como agonista do receptor GABA-A, aumentando a inibição do sistema nervoso central. Isso resulta em efeitos hipnóticos, anticonvulsivantes e de redução da atividade cerebral. Sua rápida penetração no sistema nervoso central proporciona sedação em segundos, com curta duração de ação, mas pode acumular em uso contínuo devido à redistribuição tecidual e metabolização hepática.
Indicações
Indução anestésica para intubação orotraqueal
Utilizado em sequência rápida de intubação, especialmente em neurocríticos.
Controle da hipertensão intracraniana (HIC)
Indicado para sedação profunda e redução do metabolismo cerebral, diminuindo a pressão intracraniana.
Tratamento do status epilepticus refratário
Usado como barbitúrico de última linha em pacientes que não respondem a benzodiazepínicos e anticonvulsivantes.
Neuroproteção em pacientes com lesão cerebral grave
Em casos de trauma ou isquemia cerebral onde se deseja “coma barbitúrico” terapêutico.
Procedimentos neurocirúrgicos específicos
Como parte do protocolo anestésico em craniotomias ou controle de crises intraoperatórias.
Contraindicações
Porfiria aguda intermitente
Barbitúricos podem precipitar crises graves e são formalmente contraindicados.
Instabilidade hemodinâmica
Pode causar vasodilatação periférica e depressão miocárdica com queda significativa da PA.
Hipersensibilidade aos barbitúricos
Reações alérgicas, inclusive anafilaxia, já documentadas.
Disfunção hepática grave
Risco de acúmulo e toxicidade devido à metabolização hepática.
Doença respiratória descompensada sem suporte ventilatório
Pode causar depressão respiratória acentuada.
Uso prolongado sem monitoramento adequado
Risco de acúmulo, imunossupressão, hipotermia e infecções secundárias.
Apresentação
Pó para solução injetável: 0,5 g e 1 g.
⚗️ Diluição para infusão
O tiopental sódico é fornecido em pó liofilizado (ex: frasco com 1 g) e deve ser reconstituído com água estéril ou SF 0,9% para atingir uma concentração final entre 20 a 25 mg/mL, adequada para uso contínuo em sedação neuroprotetora, controle de PIC ou crises convulsivas refratárias.
✅ Concentração habitual: 25 mg/mL
- 1 g de tiopental (frasco-ampola)
- Diluir em 40 mL de SF 0,9% ou água estéril
Volume final: 40 mL
🔹 Concentração final: 25 mg/mL
✅ Alternativa mais diluída: 20 mg/mL
- 1 g de tiopental
- Diluir em 50 mL de diluente
Volume final: 50 mL
🔹 Concentração final: 20 mg/mL
📦 Passo a passo do preparo:
- Reconstituir o pó liofilizado (ex: 1 g) com SF 0,9% estéril ou água estéril
- Aspirar o volume total do frasco
- Completar com diluente estéril até atingir 40 mL (25 mg/mL) ou 50 mL (20 mg/mL)
Identificar a seringa ou frasco
Posologia
✅ Infusão contínua (manutenção)
Dose habitual para sedação neuroprotetora ou controle de PIC:
- 1 a 5 mg/kg/h, titulando conforme resposta clínica (nível de sedação ou eletroencefalograma)
- Em casos de status epilepticus refratário, pode-se utilizar até 10 mg/kg/h, com monitoramento intensivo
Faixa segura de uso prolongado (com EEG e suporte intensivo):
- De 0,5 a 3 mg/kg/h, ajustando conforme PIC, crises convulsivas ou nível de sedação desejado
📌 A dose deve ser titulada com base em:
- Pressão intracraniana (se monitorizada)
- EEG (buscando burst-suppression ou supressão completa, conforme o caso)
- Nível de consciência (ex: RASS -5)
Condições hemodinâmicas do paciente
💉 Bolus (opcional)
- Indução anestésica para intubação ou sedação rápida:
- 3 a 5 mg/kg IV, administrados lentamente (em 20 a 30 segundos)
- Para controle inicial de crise convulsiva ou HIC aguda:
- 1 a 2 mg/kg IV, podendo repetir a dose após 5 a 10 minutos, se necessário
⚠️ O bolus pode causar hipotensão e depressão respiratória — realizar sempre com monitorização contínua.
Calculadora de Tiopental
❓ Perguntas Frequentes sobre o uso do Tiopental na UTI
🔼 Quando aumentar a dose?
- Quando o paciente não atinge o nível desejado de sedação profunda ou controle da pressão intracraniana (ex: RASS -5, controle de PIC).
Também indicado se persistirem atividades elétricas no EEG em casos de status epilepticus refratário.
📌 A dose pode ser aumentada em incrementos de 0,5 a 1 mg/kg/h, com reavaliação clínica e/ou neurológica frequente.
🔽 Quando diminuir a dose?
- Quando houver queda da pressão arterial ou redução do débito cardíaco.
- Se houver sinais de acúmulo, como sedação prolongada, atraso na recuperação ou alteração no padrão respiratório.
Em melhora clínica e início de desmame da sedação.
📌 Reduzir em etapas graduais (10–20%) para evitar instabilidade hemodinâmica e rebote de atividade cerebral.
⏱️ Quanto tempo leva para iniciar a sedação após começar a infusão?
- O início é quase imediato: ocorre entre 15 e 30 segundos após administração IV.
O pico de ação é em 1 minuto, com duração de 3 a 10 minutos após bolus único, podendo variar conforme o estado hemodinâmico do paciente.
🕒 Quanto tempo o efeito dura sem infusão contínua?
- A ação dura cerca de 5 a 10 minutos após bolus único, porém o acúmulo em tecido adiposo pode prolongar o efeito em infusões contínuas.
Em uso prolongado, a meia-vida de eliminação pode se estender significativamente (até 18–36 horas).
🔽 Como fazer o desmame de Tiopental?
- Reduzir gradualmente a taxa de infusão, geralmente em 10% a cada 6–12 horas, conforme resposta clínica ou eletroencefalográfica.
- Monitorar sinais de despertar, PIC (se houver) e EEG (em casos neurológicos).
Avaliar necessidade de sedativo alternativo conforme transição.
🚨 Cheguei na dose máxima e o paciente continua convulsionando. O que fazer?
- Confirme se a convulsão é refratária e se já foram utilizadas outras drogas anticonvulsivantes em dose plena (ex: benzodiazepínicos, fenitoína, levetiracetam).
- Avalie causas reversíveis como hipoglicemia, hiponatremia, hipocalcemia, abstinência ou infecções do SNC.
Certifique-se de que o tiopental está sendo infundido corretamente e que a concentração está adequada.
📌 Condutas possíveis:
- Associar outro anticonvulsivante de ação rápida
- Realizar EEG contínuo para detectar atividade elétrica subclínica (status não convulsivo)
- Considerar anestesia geral contínua com propofol ou midazolam como alternativa
- Avaliar uso de bloqueadores neuromusculares somente se EEG for monitorado (para evitar mascarar crises)
Monitorar função renal e hepática, pois o acúmulo de metabólitos pode prolongar convulsões ou sedação
📚 Referências Bibliográficas
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