
👁️ Sinal de Argyll Robertson
O sinal de Argyll Robertson é uma alteração pupilar caracterizada por pupilas que não reagem à luz, mas que contraem normalmente durante a acomodação visual (convergência para foco próximo). Em termos técnicos, diz-se que a pupila “acomoda mas não reage”, o que representa uma dissociação luz-acomodação.
Esse achado é clássico em casos de neurossífilis, especialmente na forma de tabes dorsalis, mas pode estar presente também em outras doenças que afetam as vias neurológicas da pupila.
Importância clínica
O sinal de Argyll Robertson é um marcador neurológico clássico, especialmente relevante no rastreio de neurossífilis em pacientes com sintomas visuais, sensitivos ou psiquiátricos. Embora hoje menos comum, a sífilis ainda é uma realidade clínica, e o reconhecimento desse sinal pode ser o primeiro indicativo de infecção neurológica crônica.
É importante diferenciá-lo da pupila tônica de Adie, que também apresenta dissociação luz-acomodação, mas costuma ser unilateral, com pupila maior e lenta resposta.
O sinal se manifesta da seguinte forma:
- As pupilas são pequenas (míoticas) e apresentam resposta ausente ou muito reduzida à luz direta ou consensual
Entretanto, quando o paciente é instruído a focar um objeto próximo (como o dedo do examinador), as pupilas contraem-se normalmente durante o reflexo de acomodação
Esse fenômeno ocorre bilateralmente e é tipicamente assimétrico. Pode passar despercebido se o reflexo de acomodação não for testado.
Por que acontece?
O reflexo pupilar à luz e o reflexo de acomodação compartilham parte das suas vias neurológicas, mas divergem em alguns pontos-chave:
- O reflexo à luz passa pelo pré-tecto e núcleo de Edinger-Westphal, no mesencéfalo dorsal
O reflexo de acomodação envolve vias corticais que passam pelo lobo occipital e retornam aos núcleos do III par craniano
No sinal de Argyll Robertson, a lesão ocorre nos núcleos pré-tectais ou nas suas conexões com o núcleo de Edinger-Westphal, afetando o reflexo à luz, mas poupando as vias da acomodação — por isso ocorre a dissociação.
Causas principais
Embora classicamente ligado à neurossífilis, o sinal pode estar presente em outras condições que afetam as vias pupilares centrais:
- Tabes dorsalis (forma de neurossífilis com acometimento das colunas posteriores da medula)
- Sífilis terciária
- Esclerose múltipla
- Diabetes mellitus com neuropatia autonômica
- Lesões do mesencéfalo dorsal (tumores, isquemias, neurotoxinas)
Sarcoidose neurológica (raramente)
Quem Criou?

Dr. Douglas Argyll Robertson
Douglas Argyll Robertson (1837–1909) foi um oftalmologista escocês e cirurgião da Rainha Vitória. É conhecido por sua acurada descrição dessa resposta pupilar anormal em pacientes com sífilis terciária. Sua observação refinada contribuiu significativamente para a integração da oftalmologia com a neurologia clínica, e o sinal que leva seu nome é lembrado até hoje como um clássico da propedêutica.
Referências
- Ropper AH, Samuels MA. Adams & Victor: Principles of Neurology. McGraw-Hill, 2014.
- Kanski JJ, Bowling B. Oftalmologia Clínica. Elsevier, 2017.
- DeMyer W. Techniques of the Neurologic Examination. McGraw-Hill, 2004.
- Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico de Manejo da Sífilis.
Snell RS. Neuroanatomia Clínica. Guanabara Koogan, 2011.
