🧠 Sinal de Bell

O Sinal de Bell é um achado clássico do exame neurológico, caracterizado pela elevação do globo ocular para cima e para fora (movimento chamado de bell’s phenomenon) quando o paciente tenta fechar os olhos — especialmente no contexto de paralisia facial periférica. Ele ocorre porque, ao tentar o fechamento palpebral, o músculo que fecha os olhos (orbicular do olho) está paralisado, enquanto o movimento ocular compensatório, controlado por outros nervos, permanece preservado.

Esse movimento ocular normalmente está presente em todas as pessoas, mas é visível apenas quando há paralisia do nervo facial (VII par craniano), pois nesse caso a pálpebra superior não consegue cobrir o olho durante o piscar ou fechamento forçado.

Fisiologia por trás do sinal

O nervo facial é responsável por inervar a musculatura da mímica facial, incluindo o músculo orbicular dos olhos, que permite o fechamento palpebral. Em condições normais, quando a pessoa fecha os olhos, a pálpebra superior desce e o globo ocular se move discretamente para cima, de forma sincronizada e invisível.

Quando há uma lesão periférica do nervo facial, a musculatura da pálpebra não funciona adequadamente. Assim, ao tentar fechar os olhos, ocorre apenas a movimentação do globo ocular para cima e para fora, mas o olho permanece parcialmente aberto, tornando esse movimento visível. Esse é o chamado Sinal de Bell positivo.

Importância clínica

O Sinal de Bell é um recurso clínico simples, mas muito útil para confirmar a topografia periférica da paralisia facial. Ele ajuda a diferenciar entre uma lesão periférica (onde o sinal aparece) e uma lesão central (onde não aparece, pois o fechamento ocular está preservado devido à inervação bilateral do núcleo facial superior).

Além disso, a presença do sinal é importante na prática, pois indica exposição ocular incompleta, aumentando o risco de:

  • Ressecamento corneano
  • Ulceração ocular
  • Cerato-conjuntivite

Por isso, quando o sinal está presente, é essencial orientar cuidados com lubrificação ocular e até oclusão noturna do olho afetado, principalmente durante a fase aguda da paralisia.

Durante o exame físico, o examinador solicita que o paciente feche os olhos com força. Em casos de paralisia facial periférica, o lado afetado não consegue fechar completamente, e o globo ocular se move para cima e lateralmente, ficando visível pela abertura palpebral incompleta.

O sinal é considerado:

  • Positivo: quando há exposição visível do globo ocular ao tentar fechar os olhos, com deslocamento superior-lateral.
  • Negativo: quando o fechamento ocular é completo, mesmo com paralisia facial leve ou central.

Esse sinal é geralmente assimétrico, aparecendo apenas no lado da paralisia periférica.

Causas comuns

O Sinal de Bell é observado principalmente em casos de paralisia facial periférica, ou seja, quando a lesão acomete o próprio nervo facial após sua saída do tronco encefálico. As principais causas incluem:

  • Paralisia de Bell (idiopática e autolimitada)
  • Infecção pelo vírus Herpes simples ou Herpes-zóster (Síndrome de Ramsay Hunt)
  • Doença de Lyme
  • Traumas cranianos ou cirurgias otológicas
  • Tumores do ângulo ponto-cerebelar (ex: neurinoma do acústico)
  • Otites médias graves ou mastoidites
  • Esclerose múltipla (mais raro, geralmente lesão central)

Importante lembrar que em lesões centrais (acima do núcleo do facial), como AVCs corticais, a musculatura da pálpebra costuma estar poupada, e o sinal de Bell não é observado.

Referências

  1. Blumenfeld H. Neuroanatomy through Clinical Cases. 2nd ed. Sinauer Associates, 2010.
  2. DeMyer W. Techniques of the Neurologic Examination: A Programmed Text. McGraw-Hill Education, 2004.
  3. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico de Paralisia Facial Periférica.
  4. Snell RS. Neuroanatomia Clínica. 7ª ed. Guanabara Koogan, 2011.
  5. Campbell WW. DeJong’s The Neurologic Examination. 7th ed. Lippincott Williams & Wilkins, 2013.

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