🧠 Sinal de Desvio da Língua

O sinal de desvio da língua é um achado clínico observado durante o exame neurológico, caracterizado pela projeção assimétrica da língua para um dos lados. Trata-se de um indicativo de disfunção do nervo hipoglosso (XII par craniano), responsável pela inervação motora dos músculos da língua. Esse nervo é essencial para funções como fala, mastigação e deglutição, e sua lesão pode comprometer significativamente a coordenação desses movimentos.

A projeção da língua normalmente deve ser reta, alinhada com a linha média. Quando há lesão de um dos lados do nervo, a fraqueza muscular leva ao desvio da língua, que ocorre em direção ao lado mais fraco, devido à ação desbalanceada do músculo contralateral.

Anatomia funcional do nervo hipoglosso

O nervo hipoglosso emerge da parte anterior do bulbo, entre a pirâmide bulbar e a oliva inferior, e sai do crânio pelo canal do hipoglosso. Ele é puramente motor, ou seja, não possui fibras sensitivas ou parassimpáticas, e inerva praticamente todos os músculos da língua — com exceção do palatoglosso, que é inervado pelo nervo vago.

O principal músculo responsável por protruir a língua é o genioglosso. Quando os dois lados funcionam normalmente, esse músculo empurra a língua para frente de forma centralizada. Se houver uma lesão unilateral, o músculo do lado lesado não age com força suficiente, e a língua desvia para o lado afetado.

Importância clínica

O sinal de desvio da língua é um achado simples, mas altamente informativo. Sua presença pode indicar desde lesões focais benignas até doenças sistêmicas graves. Além disso, é um sinal útil para localização topográfica de lesões neurológicas e pode ser um dos primeiros indicativos de patologias como o AVC ou a ELA.

É essencial que o examinador sempre considere esse sinal em conjunto com outros achados, como disartria, disfagia e paresias, para construir um raciocínio clínico eficaz e preciso.

Durante o exame neurológico, solicita-se que o paciente protrua a língua. Em um indivíduo normal, a língua permanece centralizada. Quando há lesão do nervo hipoglosso, ela se desvia para um dos lados. Esse desvio pode ser sutil ou bastante evidente.

A avaliação clínica deve incluir, além do desvio, a presença de atrofia muscular, fasciculações (pequenos tremores localizados) e alterações na mobilidade lateral da língua. O examinador pode também pedir que o paciente pressione a língua contra a bochecha ou contra um abaixador de língua, para comparar a força entre os lados.

Síndromes clínicas associadas

A avaliação do nervo hipoglosso também pode contribuir para o diagnóstico de síndromes neurológicas de localização, que envolvem múltiplos pares cranianos. Um exemplo clássico é a síndrome de Collet-Sicard, caracterizada pela lesão dos nervos IX, X, XI e XII, geralmente causada por tumores ou fraturas na base do crânio. Outro exemplo é a síndrome medial do bulbo (Dejerine), em que a lesão do nervo hipoglosso é acompanhada de hemiparesia contralateral, por comprometimento das vias piramidais.

Central ou periférico?

Uma parte essencial da análise do sinal é identificar se a lesão é central (motoneurônio superior) ou periférica (motoneurônio inferior), pois isso altera o padrão do desvio e os achados associados.

Nas lesões periféricas, como aquelas que afetam diretamente o nervo hipoglosso ou seu núcleo no bulbo, o desvio da língua será para o mesmo lado da lesão. Nesses casos, também é comum observar atrofia e fasciculações, sinais típicos de dano ao neurônio motor inferior.

Já nas lesões centrais, que comprometem as vias corticoespinais antes de atingirem o núcleo hipoglosso, o desvio ocorre para o lado oposto da lesão. Isso se dá porque as fibras motoras decussam (cruzam) no bulbo, e o comprometimento ocorre antes dessa decussação. Nessas situações, não há atrofia evidente, mas podem coexistir sinais de lesão do neurônio motor superior, como espasticidade ou paresia de membros.

Referências

  1. Blumenfeld H. Neuroanatomy through Clinical Cases. 2nd ed. Sinauer Associates, 2010.
  2. DeMyer W. Techniques of the Neurologic Examination: A Programmed Text. McGraw-Hill Education, 2004.
  3. Preston DC, Shapiro BE. Electromyography and Neuromuscular Disorders. 3rd ed. Elsevier, 2012.
  4. Snell RS. Neuroanatomia Clínica. 7ª ed. Guanabara Koogan, 2011.
  5. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico de Atenção Neurológica.
  6. Patestas MA, Gartner LP. A Textbook of Neuroanatomy. 2nd ed. Wiley-Blackwell, 2016.

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