Sinal de Cullen

O Sinal de Cullen é uma manifestação clínica importante que pode indicar condições médicas graves, como pancreatite aguda, gravidez ectópica rota ou outras causas de hemorragia intra-abdominal. Caracterizado por uma descoloração azulada ao redor do umbigo, esse sinal é resultado do acúmulo de sangue no tecido subcutâneo periumbilical, refletindo a gravidade da hemorragia intra-abdominal. Descrito pela primeira vez por Thomas Stephen Cullen em 1918, o Sinal de Cullen é um indicador valioso na prática médica para o diagnóstico precoce e a intervenção adequada em emergências abdominais.

Fisiopatologia

O mecanismo fisiopatológico do sinal de Cullen envolve o extravasamento de sangue da cavidade peritoneal ou retroperitoneal para o tecido subcutâneo da região periumbilical. Esse processo ocorre devido à difusão do sangue através dos planos fasciais do abdome, sendo facilitado pela anatomia das fáscias e pela comunicação dos espaços peritoneais com a parede abdominal anterior.

A principal origem do sangramento pode ser:

  • Pancreatite hemorrágica aguda: A necrose e inflamação pancreática severa levam à ruptura de pequenos vasos, com extravasamento de sangue para o espaço retroperitoneal. O sangue então se espalha ao longo das fáscias abdominais e se torna visível na pele.
  • Gravidez ectópica rota: A ruptura de uma gestação ectópica causa hemorragia intraperitoneal, com difusão sanguínea através da bainha do músculo reto abdominal, tornando-se aparente na pele periumbilical.
  • Trauma abdominal grave: Lesões vasculares internas ou ruptura de órgãos abdominais podem causar acúmulo de sangue na cavidade peritoneal, migrando posteriormente para a região subcutânea.
  • Ruptura de aneurisma da aorta abdominal: A dissecção ou ruptura do aneurisma leva a sangramento maciço, que pode se disseminar para os tecidos adjacentes, tornando-se visível na parede abdominal anterior.

Esse processo de disseminação do sangue ocorre de maneira lenta, o que explica o atraso no aparecimento do sinal de Cullen em relação ao início do sangramento. Sua presença indica um processo hemorrágico avançado e de alta gravidade, exigindo diagnóstico e tratamento imediato para evitar desfechos fatais.

Descrição

O sinal de Cullen é caracterizado pelo aparecimento de uma equimose de coloração azulada ou arroxeada na região periumbilical, resultante do extravasamento de sangue para o tecido subcutâneo. Esse achado clínico indica um processo hemorrágico interno, geralmente grave, e pode estar associado a diversas condições, como pancreatite hemorrágica aguda, gravidez ectópica rota, ruptura de aneurisma da aorta abdominal e trauma abdominal severo.

A pigmentação do sinal de Cullen pode variar conforme a evolução da hemorragia, passando de tons azulados e arroxeados para esverdeados e amarelados devido à degradação da hemoglobina. O sinal pode surgir em 24 a 48 horas após o início do sangramento e, em muitos casos, está acompanhado de outros achados clínicos, como dor abdominal intensa, sinais de choque hipovolêmico e distensão abdominal.

Embora não seja um achado comum, sua presença sugere um quadro de hemorragia interna significativa, sendo fundamental para o diagnóstico precoce e intervenção médica imediata.

Tratamento

O sinal de Cullen não possui um tratamento específico, pois trata-se de uma manifestação clínica de uma condição subjacente grave, como pancreatite hemorrágica aguda, ruptura de gravidez ectópica, entre outras. Dessa forma, o tratamento deve ser direcionado à doença de base que está causando o extravasamento de sangue para o tecido subcutâneo periumbilical.

As principais abordagens terapêuticas incluem:

  • Suporte hemodinâmico: Monitorização rigorosa, reposição volêmica com cristaloides e, se necessário, transfusão sanguínea em casos de choque hipovolêmico.
  • Controle da dor: Administração de analgésicos, preferencialmente opioides em casos de dor intensa, evitando anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) devido ao risco de sangramento.
  • Suporte nutricional: Em casos de pancreatite grave, pode ser necessário jejum e suporte nutricional por via enteral ou parenteral.
  • Tratamento da doença de base: Se o sinal de Cullen for causado por pancreatite hemorrágica, o manejo envolve hidratação agressiva, suporte em unidade de terapia intensiva (UTI) e, se houver complicações como necrose infectada, desbridamento cirúrgico ou drenagem. No caso de gravidez ectópica rota, a conduta é cirúrgica, com laparotomia ou laparoscopia para controle do sangramento.
  • Antibioticoterapia: Indicada em casos de infecção secundária, como abscessos pancreáticos ou peritonite.

Quem Descreveu

Dr. Thomas. S. Cullen

Thomas Stephen Cullen (1868-1953) foi um ginecologista canadense-americano, conhecido por suas contribuições significativas para a patologia ginecológica. Cullen estudou e trabalhou na Johns Hopkins University, onde ajudou a estabelecer o laboratório de patologia ginecológica. Ele foi pioneiro no uso do microscópio para diagnósticos intraoperatórios e descreveu o Sinal de Cullen em 1918, um achado clínico associado à hemorragia retroperitoneal. Seu legado continua a influenciar a prática e a educação em ginecologia.

Referências

  1. Banks PA, Bollen TL, Dervenis C, et al: Classification of acute pancreatitis 2012: Revision of the Atlanta classification and definitions by international consensus. Gut 62:102–111, 2013. doi: 10.1136/gutjnl-2012-302779
  2. American Gastroenterological Association Institute Guideline on Initial Management of Acute Pancreatitis. Crockett, Seth D.Crockett, Seth et al. Gastroenterology, Volume 154, Issue 4, 1096 – 1101

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima